
Canceladas em 2020 e 2021 devido à pandemia covid-19, neste regresso à capital do Ramo Grande, as Festa da Praia conservam o tema escolhido para a edição de 2020, assim como o coordenador artístico então indicado, não obstante a mudança de cor política do executivo camarário, entretanto ocorrida.
Vasco Lima enquanto coordenador artístico das Festas da Praia 2022 é responsável pela organização dos cortejos e da marcha oficial.
Nesta entrevista, aquele que é também presidente da Junta de Freguesia da Vila Nova, desvenda um pouco sobre o que acontecerá ao longo dos dez dias de festa, sobretudo no que diz respeito às áreas da sua responsabilidade, onde o cortejo de abertura, o desfile para as crianças e a marcha das festas assumem papel de maior destaque.
“A ideia passou por tentar criar um tema que abrisse as festas da Praia à história do resto do mundo…”
As Festas da Praia 2022 decorrem sob o tema “Do Mundo Antigo, as 7 Maravilhas”. O que o levou a escolher este tema?
A ideia passou por tentar criar um tema que abrisse as festas da Praia à história do resto do mundo, nesse caso, do Mundo Antigo. O tema é, por si só, algo que remete para o grandioso, o mágico e o místico, ingredientes que me parecem encaixar na perfeição dentro daquilo que é a lógica de um cortejo de abertura. Acho que é isso que as pessoas procuram ver quando, naquele dia, saem de casa para ir à Praia assistir ao cortejo de abertura.
“Só no final do primeiro trimestre é que ganhou consistência o regresso das Festas da Praia…”
Este fora o tema escolhido para a edição 2020, que veio depois a ser cancelada devido ao contexto epidemiológico. Estes dois anos de premeio foram vantajosos na perspetiva da maturação do inicialmente idealizado ou, pelo contrário, acabou por ser um “handicap” face à incerteza da evolução da pandemia e, por conseguinte, da realização das festas?
A paragem não foi propriamente positiva porque o contexto de incerteza, a múltiplos níveis (ex. as restrições decorrentes da situação pandémica; a reestruturação das equipas decorrente do novo projeto camarário; os casos recorrentes de COVID sobre os nossos colaboradores; o espetro de que os figurantes poderão vir a ter a doença na altura das festas, etc.) acabou por atrasar um pouco o projeto. Destaco que, só no final do primeiro trimestre é que ganhou consistência o regresso das Festas da Praia, quando noutros anos, por essa altura, já se trabalhava em velocidade de cruzeiro nas festas.
“A ‘viagem ao passado’ levar-nos-á a várias civilizações da antiguidade…”
Que maravilhas serão mostradas no cortejo de abertura? Quantos quadros terá e quantos figurantes envolverá?
De uma forma estilizada, sendo o cortejo todo ele muito contemporâneo, a “viagem ao passado” levar-nos-á a várias civilizações da antiguidade, dando-nos uma imagem concreta daquelas que foram consideradas as sete maravilhas do mundo antigo, ou seja: a Grande Pirâmide de Gizé; o Mausoléu de Halicarnasso; o Templo de Artemis; o Farol de Alexandria; o Colosso de Rodes; os Jardins Suspensos da Babilónia e a Estátua de Zeus.
O cortejo será constituído por quatro carros alegóricos, sendo três deles espelhados, ou seja, aludindo a duas maravilhas em simultâneo e um quarto, e último carro, dedicado exclusivamente a uma só maravilha. No total estarão em cena cerca de cem figurantes.
“… toda a cidade se preparará e será decorada tendo por base a temática das festas.”
Para além do desfile de abertura, haverá outras atividades/ manifestações/adereços relacionadas com o tema das festas? E se sim, quais?
De uma forma geral, toda a cidade se preparará e será decorada tendo por base a temática das festas. Um dos exemplos mais concretos será visível na marcha oficial das festas.
A marcha oficial espelha “os sorrisos de ‘um povo feliz que canta e que diz adeus à saudade’”.
Relativamente à marcha oficial das festas, quantos elementos a compõe, que coreografia apresentará, como é intitulada, e quais são os autores da letra e da música?
A marcha é composta por 32 casais, ou seja, 64 figurantes, envolvidos numa coreografia dinâmica e cheia de vida, tendo por grande pretensão o festejar do regresso das festas, espalhando os sorrisos de “um povo feliz que canta e que diz adeus à saudade”. A marcha herdou o nome do tema oficial das festas, sendo a letra da autoria de José Esteves e a música de Evandro Machado, ou seja, dois praienses. A interpretação é dos FADOalado.
Acrescento que este ano criamos a figura de um presidente da marcha (João Azevedo), que a coreografia está a cargo de Bruna e de Renato Garcia, que os figurinos são de Marta Meneses e que a confeção está entregue a um grupo de costureiras sob a liderança de Manuela Oliveira. Os cabelos serão responsabilidade de Lídia Branco e a maquiagem de Andreia Meneses. As barbas dos senhores serão cuidados por Joca Brasil.
Desfile etnográfico e ecológico: “optou-se por projetar para edições futuras…”
Em 2020, estava previsto o regresso do desfile etnográfico e a introdução de um desfile ecológico. Este regresso e esta inovação vão acontecer na edição deste ano?
Uma vez que estes cortejos exigem um trabalho de conceção, de preparação e de envolvimento de imensas instituições e pessoas e que as condicionantes ligadas à pandemia não permitiram atempadamente fazer o trabalho preparatório exigível e necessário a boa concretização dos mesmos, optou-se por projetar para edições futuras a concretização desses desfiles por forma a garantir o nível e a qualidade a que a Praia da Vitória tem habituado todos quantos se deslocam às suas festas maiores.
“O cortejo infantil englobará vários temas, materializados num total de três carros alegóricos…”
Outro dos pontos fortes das festividades é o desfile das crianças. Qual o tema deste ano, quantos quadros apresentará e que número de figurantes envolverá?
O cortejo infantil englobará vários temas, materializados num total de três carros alegóricos, dois deles exibindo temática dupla e o último com um só tema, perfazendo, no geral, cinco quadros. Ao todo englobará à volta de 50 figurantes. Realço que muitos dos bonecos serão reciclados e reconfigurados, numa lógica de ecologia, de poupança e de exaltação do espírito criativo.
Uma coisa é absolutamente certa: as crianças terão contacto com personagens e bonecos que lhes são sobejamente conhecidos e familiares.
“Que seja arte a despertar-nos para a nossa condição humana!”
Finalmente, quais são as suas expetativas para estas festas e que mensagem gostaria de deixar aos locais e a quem nos visita?
A expectativa é que seja um regresso em grande das festas da Praia! Em grande porque gostaria que despertasse nas pessoas a curiosidade face ao tema. Que gerasse um impulso no sentido de levar as pessoas a pesquisar e a conhecer mais sobre cada uma daquela maravilhas e civilizações.
Mais, que a ideia de “maravilhas da humanidade” possa funcionar como despertador de consciências para a necessária e urgente “unidade do mundo”, ou seja, para a necessidade de união, de agregação, de pacificação, enfim, de harmonia e de encontro à volta de valores universais e invioláveis. Tudo isto num tempo em que impera a violência, o egoísmo, a maldade e a descrença no ser humano e na sua capacidade de se maravilhar consigo próprio.
Que seja arte a despertar-nos para a nossa condição humana!
© PE | Foto: Vasco Lima