A MINHA DÍVIDA É MAIOR QUE A TUA

Nos últimos dias temos assistido a uma troca de acusações e ao desfile de argumentos, pelos mais variados interlocutores, sobre a dívida contraída pelo Município da Praia da Vitória ao longo dos últimos anos. Essa troca de argumentos (alguns verdadeiramente demonstrativos de como chegámos a este ponto) revela bem o desrespeito pela coisa pública e, sobretudo, coloca a nu a leviandade como PSD e PS endividaram o Município e, consequentemente, os seus munícipes, os praienses.

Para que precisamos de políticos? O(s) caso(s) do Município da Praia é demonstrativo de como se torna fácil administrar o dinheiro dos outros. Desbarata-se e depois pede-se empréstimo em cima de empréstimo, porque alguém há-de pagar! Seguem-se os aumentos de taxas e taxinhas, a redução dos escalões de consumo de água, encapotando o seu aumento e, por último, o aumento desse imposto (deveras estúpido e completamente imoral) que é o IMI, que não serve para mais nada senão para facilitar dinheiro aos municípios compensando a falta de transferências por parte do Estado para estes. Aliás, no Continente e nos Açores há muito que a arte de governar passa por ludibriar os contribuintes e encobrir o aumento de impostos aplicando taxas em tudo o que mexe.

Dos políticos eleitos e com legitimidade para governar exige-se muito mais. Exigem-se soluções e visão, empenho para inovar e capacidade de liderança, sobretudo nos tempos difíceis. Mas exige-se seriedade e responsabilidade na gestão do dinheiro público.

É porque gerir como se geriu a Praia da Vitória nos últimos anos para agora concluir que se atingiu uma situação de pura incapacidade até para pagar ordenados, atirando-se os praienses para a saga do aumento dos impostos, sobrecarregando-os com encargos que eles não fizeram, é o caminho fácil e que revela a impreparação desses mesmos políticos para fazer face a algo que, desde 2018, já se sabia e conhecida (basta ir ao célebre relatório da autoria então feita pelo Tribunal de Contas). Portanto não podem agora vir dizer que o assunto era totalmente desconhecido.

Esta dicotomia entre os bons e os maus, esta visão maniqueísta da política em que se entrincheiram cada um do seu lado da barricada, nada traz de bom ou relevante para aqueles cujas vidas vão ser afetadas se não se mudar o paradigma. Não será preciso ser um Churchill, ao qual os Britânicos recorriam em tempos de crise, mas bastava-nos gente que se rodeasse dos melhores para discutir políticas e medidas que, em vez de onerar os mesmos de sempre, permitissem à Praia sair do marasmo em que se encontra há vários anos, apesar de tantos milhões de euros de dívidas.

Precisamos de mulheres e de homens que alcancem para além das tricas partidárias e que não se percam na estéril discussão de a minha dívida é maior que a tua (ironia).

Chegados aqui vamos unir sinergias e conhecimento para resolver os problemas. Não há necessidade de inventar a roda. Por esse mundo fora existem exemplos, mais do que experimentados, de como podemos inovar, rentabilizar, poupar. Haja para isso visão e vontade.

E quanto ao resto vem-me à memória aquela frase batida: À justiça aquilo que é da justiça; aos políticos cabe desenvolver políticas que resolvam os problemas das pessoas. Deixemo-nos de constatar o óbvio e passemos à resolução do problema.

«Não encontre um defeito, encontre a solução» Henry Ford.

Orlando Fontes
Coordenador da Iniciativa Liberal na Terceira

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