
Tiago Ormonde natural da freguesia de Santa Cruz, Praia da Vitória, onde nasceu há 39 anos, é o primeiro proponente e candidato à presidência da Câmara Municipal da Praia da Vitória pelo Grupo de Cidadãos Eleitores (GCE) “Esta é a nossa Praia”, nas eleições autárquicas do próximo dia 26 de setembro. Economista de profissão, Tiago Ormonde exerceu nos últimos quatro anos o cargo de vereador a tempo inteiro na autarquia praiense, eleito pela lista do Partido Socialista. Licenciado em Economia e possuindo uma Pós-Graduação em Gestão, reside na mesma freguesia que o viu nascer.
Nesta entrevista, o candidato independente à Câmara, assume que a lista que encabeça está a fazer história em eleições democráticas no concelho, e diz liderar um projeto que, acreditando num melhor futuro para a Praia da Vitória, alicerça as suas linhas de orientação estratégica em princípios como o “diálogo”, a “proximidade”, a “cooperação e pela união”. Assegurando que a Praia da Vitória, mais do que projetos megalómanos ou grande obras, o que realmente necessita é a “definição clara de políticas de sustentabilidade” e também de uma voz “assertiva” na reivindicação das matérias que estão fora das competências camarárias, vê na “valorização e potenciação da baía da cidade” a oportunidade para a criação “de um vasto número de negócios” e garante que os compromissos que assume são “realistas” e “exequíveis”. Diz que o projeto que lidera, assumirá as responsabilidades que os praienses lhes queiram confiar, “com total sentido de missão e serviço á causa pública” e avança que o mesmo “está vivo” e não terminará no domingo das eleições.
“Fazemos história na era democrática na Praia da Vitória”
Praia Expresso (PE) — Face às circunstâncias, quais foram as principais motivações que o levaram a liderar uma lista de cidadãos eleitores à Câmara Municipal da Praia da Vitória?
Tiago Ormonde (TO) — É verdade que, alguns de nós, estivemos envolvidos noutros projetos políticos, mas mudar para melhor não é um erro. Erro seria continuar a compactuar com projetos políticos sem projeto, nem visão de futuro para a Praia da Vitória. Assim, fazemos história na era democrática na Praia da Vitória. Pela primeira vez, um grupo de cidadãos independentes do arco partidário apresenta uma candidatura aos órgãos autárquicos. Fazemo-lo, porque centenas de Praienses, do Porto Martins aos Biscoitos, manifestaram essa vontade e porque os que têm assumido a responsabilidade da governação municipal começam a denotar maior apetência por outros interesses, que não o superior interesse de defesa da nossa terra e dos Praienses. A Praia da Vitória que queremos promover, e que acerrimamente defendemos com esta candidatura independente, é uma Praia da Vitória diferente, com visão de futuro, aberta ao diálogo com todos os níveis de poder, preocupada, única e exclusivamente, com a valorização do nosso território, com a potenciação do nosso maior capital e património – que são os Praienses, de cá, emigrados e até daqueles que escolheram a Praia para se fixar em família ou para instalar os seus negócios… Assim, apresentamo-nos com a convicção de que o projeto que defendemos é o melhor para a Praia da Vitória, Concelho que tem potenciais imensos por explorar e definições urgentes para adotar, no sentido de passarmos a ser nós a decidirmos o que é melhor para a nossa terra e para a nossa população. Basta de nos imporem alegadas soluções de futuro sem que nós, todos os Praienses, em primeiro lugar e desde logo, saibamos o que queremos, claramente, para a consumação do nosso desenvolvimento social e crescimento económico.
“Acreditamos no futuro da Praia da Vitória, mas defendemos (e não abdicamos deste princípio) que o mesmo passa pelo diálogo, pela proximidade, pela cooperação e pela união”
PE — Tem apresentado um conjunto de novas ideias para a Praia da Vitória, algumas delas relativamente fáceis de concretizar, como é por exemplo, a deslocalização da doca seca da Marina para o porto de pescas no Cabo da Praia. Tendo tido responsabilidades executivas nos últimos quatro anos, porque razão, no caso concreto desta ideia, ela não avançou?
TO – Como deve saber, por definição legal, excetuando as competências que estão atribuídas diretamente aos presidentes das câmaras municipais, as demais competências são da responsabilidade de todo o executivo municipal analisar e votar. Por opção, no início do mandato que agora está a terminar, foram delegadas algumas destas competências em alguns vereadores. Mas isto não significa que possam fazer todo o que nos apetece ou que possamos fazer sem que existe consenso entre todos os membros do executivo municipal. Acreditávamos, infelizmente de forma errada, que pensar diferente era resultado de consciências esclarecidas. No entanto, percebeu-se, de forma cabal e esclarecida, o que cada um pensa, sobre a dedicação cívica às causas da missão do serviço público. Nós, aqueles que agora dão a cara por um projeto de desenvolvimento concelhio diferente e alternativo, acreditamos no futuro da Praia da Vitória, mas defendemos (e não abdicamos deste princípio) que o mesmo passa pelo diálogo, pela proximidade, pela cooperação e pela união. Quem nos conhece, sabe que primamos por esses princípios e valores. Aceitar integrar um projeto político de desenvolvimento da nossa Cidade e do nosso Concelho apenas e só porque podemos valer votos, mas limitados cegamente aos humores e caprichos de quem o lidera, não faz parte da nossa génese. A nossa liberdade é do tamanho dos nossos princípios. No entanto, e porque a nós parece que estas questões fazem parte do passado e que o que interessa é o futuro da Praia da Vitória, permita-me dizer-lhe que a deslocação da doca seca da Marina para a zona do porto de pescas, no Cabo da Praia, criará condições para o surgimento de novos negócios na área da reparação de embarcações de recreio, tornando a Praia da Vitória mais competitiva no contexto atlântico, para além de que esta deslocalização fará com que a própria capacidade da Marina seja ampliada, criando-se uma segunda bolsa de estacionamento de embarcações junto ao porto de pescas.
“Valorização e potenciação da baía da Cidade abre portas à criação de um vasto número de negócios”
PE — Defende a transformação da baía da Praia da Vitória num Centro de Formação de Desportos Náuticos. Nessa sua visão como ficam questões como o cais de cruzeiros, transshipment e o GNL?
TO – A transformação da baía da Cidade num Centro de Formação de Desportos Náuticos é o mote para a implementação de um plano de reordenamento que prevê intervenções na Marina, Clube Naval, Paul e areais da Praia da Vitória. Neste sentido, o Clube Naval da Praia da Vitória é um parceiro fundamental do Município na valorização e potenciação do extraordinário ativo natural que temos, que é a nossa baía. Assim, entendemos que toda a área da baía junto à praia Grande, Marina, Prainha, Zona Verde, Clube Naval e Paul da Cidade, carece de uma intervenção de reordenamento. O projeto passa pela ampliação da zona do Paul – fazendo desta área nobre da Cidade uma zona de bem-estar e saúde, interligada com a baía –, reordenamento de toda a zona do Clube Naval, incluindo a edificação de uma nova sede, com espaços sociais condignos para este Clube, criação de espaços condignos também para as empresas marítimo-turísticas e passagem da doca seca da marina para junto do porto de pescas. A deslocalização da doca seca da Marina terá as vantagens que atrás já lhe referi. Paralelamente a tudo isto, importa ainda garantir a resolução definitiva dos problemas anuais relativos a assoreamento e falta de areia na praia Grande, pois os recursos naturais devem estar ao serviço da nossa economia, criando emprego sustentável, não devem ser custos exacerbados para o erário público. Temos, também por isso, um plano de salvaguarda e recuperação dos areais da baía, com especial destaque para a praia Grande, resolvendo o excesso de areias na zona de entrada na Marina e a falta de areia na zona da muralha através do recurso a sistemas de geotubos que são um método comprovado, efetivo e económico para projetos de proteção costeira e marinha como é o caso. Resolvendo-se este problema, reduzem-se custos e garante-se qualidade a todos os utilizadores da baía. Se merecermos a confiança dos Praienses, a prioridade passa pela criação de emprego sustentável através da implementação de medidas de incentivo à iniciativa privada. Desde logo, a valorização e potenciação da baía da Cidade abre portas à criação de um vasto número de negócios, sejam associados à náutica de recreio, à reparação naval, às atividades marítimo-turísticas e até desportivas. Concretamente, para o Porto da Praia da Vitória defendemos a criação de um hub logístico regional, recebendo a mercadoria vinda do exterior com destino à Terceira e demais ilhas dos grupos Central e Ocidental. Quanto ao dossier Cais de Cruzeiros teremos que fechar este assunto definitivamente com quem pode realizar o investimento que, como se sabe, é o Governo Regional, não a Câmara Municipal.
“Sistema de geotubos permitirá uma dragagem mais constante e duradoura e com muitos menos custos do que os que atualmente o Município tem”
PE — Em janeiro de 2020, a CMPV anunciou uma candidatura de 1,2 milhões de euros ao programa LIFE visando a sustentabilidade dos areais da Praia da Vitória. Quando diz que pretende recuperar os areais através de um sistema de geotubos, esta ideia vem na sequência desta candidatura ou é um novo projeto?
TO – Uma cosia é diferente da outra, mas ambas são essenciais. Primeiro, o projeto candidatado aos fundos europeus prende-se com um estudo profundo sobre a sustentabilidade dos areais, as correntes dentro da baía, as movimentações originadas pelas diversas intervenções que o homem foi promovendo ao longo da história do último século. Este estudo é essencial, pois deixará indicações claras quanto às soluções futuras a adotar no sentido de evitar males maiores. Quanto à questão dos geotubos, como atrás lhe disse, trata-se de ser racional e responsável. A Marina da Praia da Vitória foi ali construída por decisão política antiga do PSD. Determinar agora que se vai retirar dali aquela infraestrutura, como já vi defendido por alguns candidatos nesta pré-campanha eleitoral, não é sensato, uma vez que passar toda a Marina de onde está implicaria um desmantelamento de infraestruturas que ali se encontram e que custariam muitos milhões a destruir. Não faz sentido e não estamos em tempos de gastar milhões para destruir, apenas porque sim! Assim, a aplicação do sistema de geotubos permitira uma dragagem mais constante e duradoura e com muitos menos custos do que os que atualmente o Município tem. Estamos a ser realista e a assumir compromissos exequíveis.
Praia da Vitória necessita “da definição clara de políticas de sustentabilidade e da reivindicação assertiva daquilo que não depende de nós”
PE — Como vê a Praia cidade e concelho daqui a quatro anos?
TO – Se for com a nossa liderança, vejo-a muito melhor. Desde logo porque não estamos a prometer tudo a todos, sem a consciência de que os tempos não são para tais promessas. Já lá vai o tempo em que eram precisas grandes obras e infraestruturas. Neste momento, a Praia da Vitória necessita de intervenções de menor monta, da definição clara de políticas de sustentabilidade e da reivindicação assertiva daquilo que não depende de nós. A nossa Praia é de diálogo e cooperação; é de ouvir, debater, refletir e assumir posições muito claras quanto ao melhor que temos para dar à Terceira, aos Açores e aos demais interessados no nosso potencial geoestratégico, mas nunca abdicaremos de dizer o que queremos em troca, o que entendemos ser melhor para a Cidade e para o Concelho. Se merecermos a confiança dos Praienses, a prioridade passa pela criação de emprego sustentável através da implementação de medidas de incentivo à iniciativa privada. Desde logo, a valorização e potenciação da baía da Cidade; depois, através da dinamização do Centro Histórico com a introdução de estruturas urbanas de apoio ao comércio de rua e de manifestações culturais; o apoio à instalação do Parque empresarial das Lajes; o reforço das competências do Gabinete de Empresa (ao nível da captação de investimento externo); a continuidade do apoio aos projetos Praia Links e Terceira Tech Island (para que sejam polos de atracão de novos negócios vocacionados para a criação de empresas de setores em crescimento); a revisão do PDM visando captar novos investimentos turísticos e criar novas zonas de expansão urbana na Cidade e nas Freguesias e Vila; captação de novas famílias para o centro da Praia, dando utilização a centenas de moradias vazias, criando o Programa “PraiaComVida” onde serão disponibilizados incentivos para a atratividade e fixação de jovens casais; transformação da Praia da Vitória numa Cidade Atlântica do Conhecimento, através da promoção de ciclos anuais de conferências, seminários e workshops com palestrantes de referência nas áreas científicas, ambientais, históricas e culturais; implementação de medidas de ordenamento do território; fim dos parquímetros e criação de novas bolsas de estacionamento; criação do Espaço Jovem +, que pretende dar resposta aos estudantes em áreas como educação, novas tecnologias, produção artística, formação, emprego e saúde; criação da Assembleia Municipal Jovem, despertando e desenvolvendo o conceito de cidadania ativa; aposta clara na Cultura, até porque também é motor de desenvolvimento económico e social, através da constituição de um Conselho Consultivo para a Cultura; desenvolveremos ações de formação e de sensibilização culturais e artísticas nas escolas; apoiaremos o melhoramento das condições dos palcos e das salas das sociedades recreativas e das salas de ensaio das filarmónicas; integraremos as atividades das Freguesias na programação cultural do Concelho. Por outro Lado, impõe-se repensar e tornar mais atrativas as Festas da Praia e o Outono Vivo, transformar o edifício da Antiga Biblioteca numa Galeria de Artes e Exposições, bem como criar espaços museológicos associados à história da Praia da Vitória e à importância da Tourada à Corda. Vamos ainda criar uma Comissão Independente para elaborar uma candidatura à UNESCO que eleve a Praia da Vitória a Património Mundial, pois os proveitos de tal classificação podem ser aos níveis económico, turístico, cultural e de empregabilidade, utilizando toda a história da presença da Base das Lajes no nosso território.
“Esta candidatura está viva e não termina a 26 de setembro”
PE — Por fim, em termos eleitorais, quais os objetivos que se propõe atingir?
TO – Qualquer cidadão que se candidata, seja ao que for, fá-lo com a convicção de que tem um projeto merecedor da confiança da maioria dos votantes, neste caso dos eleitores da Praia da Vitória. Já fizemos história ao avançar com esta candidatura independente. Estamos a reunir com todas as instituições no sentido de dar a conhecer o nosso projeto de desenvolvimento para a Praia da Vitória. Temos percorrido todo o Concelho a apresentar-nos ao eleitorado e a dar nota da nossa nova visão de futuro para a Praia da Vitória. No entanto, assumiremos as responsabilidades que os Praienses nos queiram confiar, com total sentido de missão e serviço à causa pública. O Movimento de Cidadãos “Esta é a nossa Praia” apresenta-se às eleições movido pelo desejo profundo de fazer mais e melhor. Esta candidatura está viva e não termina a 26 de setembro; nasceu para ter continuidade e tem como principal propósito a defesa intransigente da Praia da Vitória!
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