
Há dois anos atrás, visitei o Lar D. Pedro V com alguma assiduidade, pelo facto de lá ter estado nos chamados Cuidados Continuados, uma familiar de minha esposa. Na altura escrevi alguns textos sobre este assunto, sempre no sentido de despertar as pessoas para esta realidade, que nos pode bater à porta a qualquer momento! Também não me cansei de elogiar o trabalho desenvolvido por todos os funcionários, na procura do bem-estar dos seus utentes!
Inesperadamente, volto outra vez às minhas visitas frequentes àquele Lar, por lá estar internado um familiar muito próximo!
De novo, sinto que estão bem, no aspecto das condições básicas, que são o seu local de permanência, a alimentação e os cuidados de saúde! No entanto, o que mais me custa, é ouvir alguns desabafos de pessoas que mal me conhecem, mas que sentem a necessidade de aliviar os seus desgostos! Ou quem sabe, leva-los até àqueles que os provocam…
Desgostos, por efeito da má sorte
Desgostos, por alguém que já perderam
Desgostos, por sentirem perto a morte!
Desgostos, pelo tanto que fizeram
e sentir que não tem quem os conforte
nem mesmo os filhos que tiveram!
Saio daquela casa muito triste mesmo! Trago comigo a imagem daqueles rostos sofridos pela dor da doença ou do abandono dos seus mais queridos. Raramente vislumbro um sorriso! A não ser da funcionária que se esforça por animar aquele que nota estar mais triste. Vejam só a linda ave que está ali no pátio, dizia aquela auxiliar, enquanto jogava às cartas com alguns utentes!
Recordo com alguma angústia, vários aniversários que neste Lar assisti, sem a presença de nenhum familiar! Cada corte que a faca dava no bolo… Era decerto uma facada no peito daquela mãe que carregou o filho durante nove meses, lhe mudou as fraldas, o alimentou e fez dele um homem ou mulher! Ou então, daquele pai que de enxada na mão e suor do seu rosto, lhe deu o pão para o seu sustento!
As palmas soavam no ar, mas apenas dos utentes, funcionários ou visitantes como eu!
Também saio daquela casa, com vontade de elevar as mãos ao céu e dizer: Meu Deus! Obrigado pela saúde que me dás, por me conservares no meu lar e pela família que tenho!
Faz-nos bem, visitar um lar de idosos, sejam eles doentes efectivos ou dos cuidados continuados. Trazemos connosco a mágoa, mas também a alegria do contributo para um sorriso de momento!…
Fernando Mendonça*
(*) Por opção, o autor rejeita o AO90.
