FIM DE ANO NOS AÇORES: ENTRE O QUE PIOROU E O QUE AINDA PODEMOS MUDAR

O final de um ano é sempre um momento de balanço. Nos Açores, esse exercício impõe-se com ainda mais seriedade, porque demasiadas famílias entram no novo ano com mais dúvidas do que certezas.

Ao longo deste ano, a vida tornou-se objetivamente mais difícil. O preço da habitação continuou a subir, afastando cada vez mais jovens e famílias do sonho legítimo de ter uma casa. Arrendar é, hoje, um desafio quase impossível para muitos, e comprar tornou-se um luxo inacessível para quem trabalha e vive do seu salário. Este não é um problema abstrato: é uma realidade sentida todos os dias por quem quer ficar nas ilhas e construir aqui o seu futuro.

A par disso, assistimos ao aumento da dívida da região, um sinal preocupante para uma economia pequena e vulnerável como a nossa. Endividar-se sem garantir crescimento, coesão social e respostas estruturais é empurrar problemas para a frente, deixando às próximas gerações um peso que não criaram.

Também o PRR, que deveria ser uma oportunidade histórica para transformar os Açores, continua envolto em incertezas. Atrasos na execução, reprogramações sucessivas e falta de clareza quanto ao impacto real dos investimentos geram desconfiança. O tempo passa, os prazos aproximam-se e muitas das respostas prometidas tardam em chegar à vida das pessoas.

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A dificuldade em viver nos Açores não se sente apenas no acesso à habitação ou na pressão sobre o rendimento das famílias. Sente-se também na forma como o Estado responde às especificidades de uma região arquipelágica e distante do continente. Um dos exemplos mais claros dessa opção é o subsídio social de mobilidade. Primeiro, foi imposto um teto máximo, ignorando a realidade de um território arquipelágico e disperso. Agora, surgem novas exigências burocráticas, com pedidos de documentos que não fazem sentido, criando entraves artificiais ao acesso a um direito que existe precisamente para compensar a distância, a insularidade e o facto de vivermos no meio do Atlântico. Tudo isto parece apontar para um objetivo simples: atrasar pagamentos e evitar assumir aquilo que é devido aos Açorianos.

Apesar deste quadro, os Açores não são uma região sem futuro. Pelo contrário. Continuam a ser uma terra de gente resiliente, solidária e profundamente ligada ao seu lugar. O que falta, muitas vezes, é coragem política para ir além dos pensos rápidos e apostar em soluções estruturais, pensadas a médio e longo prazo, sobretudo para quem é jovem e quer ficar.

É aqui que o Partido Socialista tem um papel determinante. O PS tem apresentado propostas sérias, responsáveis e ajustadas à realidade açoriana, colocando no centro das decisões as pessoas, a coesão social e o futuro da região. Propostas que correspondem às necessidades concretas dos açorianos, mas que, infelizmente, são muitas vezes rejeitadas, não por falta de mérito, mas por opção política.

Para 2026, desejo que os Açores recuperem a ambição. Que a habitação seja colocada, de forma séria, no centro das políticas públicas, com soluções reais, estruturais e acessíveis. Que haja rigor na gestão financeira da região e verdadeira transparência nas decisões políticas. Que o PRR seja finalmente um instrumento de transformação concreta e não apenas um conjunto de anúncios e intenções.

Desejo, acima de tudo, que os jovens voltem a sentir que podem sonhar com um futuro nos Açores, sem terem de escolher entre ficar na sua terra ou procurar dignidade fora dela. Que a política esteja à altura desse sonho coletivo e que 2026 seja um ano de mais responsabilidade, mais visão e mais esperança para a nossa região.

Russell Sousa
Presidente da JS Açores
Deputado do PS Açores na ALRA