
O Governo dos Açores formalizou a criação da Casa dos Açores do Havai, reforçando a rede global das Casas dos Açores e afirmando, com significado histórico e estratégico, a presença da diáspora açoriana no Pacífico.
De acordo com uma nota de imprensa divulgada esta terça-feira, 23 de dezembro, pela Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, a Casa dos Açores do Havai foi oficialmente reconhecida através da assinatura de um protocolo de cooperação, no passado dia 19 de dezembro, em Hilo, na ilha da Big Island. Esta estrutura passa a ser a vigésima Casa dos Açores no mundo e a terceira nos Estados Unidos da América, depois das casas da Califórnia, criada em 1977, e da Nova Inglaterra, fundada em 1985.
O protocolo foi assinado pelo Secretário Regional da Agricultura e Alimentação, António Ventura, em representação do Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, contando com a presença do Diretor Regional das Comunidades, José Andrade, refere a mesma nota.
Para o Secretário Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, Paulo Estêvão, “este ato ultrapassa a dimensão administrativa: traduz uma visão de futuro ancorada na identidade, na memória e na capacidade dos Açores se projetarem como um arquipélago com expressão global”.
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O governante sublinha a afinidade histórica, cultural e geográfica entre os Açores e o Havai, afirmando que, para muitos havaianos de origem açoriana, “os Açores são o Havai do Atlântico”, destacando semelhanças como a génese vulcânica, a centralidade do oceano e a cultura de resiliência das comunidades insulares. Segundo Paulo Estêvão, esta ligação cria “uma oportunidade singular de cooperação baseada não apenas na história comum, mas numa visão partilhada de desenvolvimento sustentável, conhecimento e identidade”.
A Casa dos Açores do Havai resulta da iniciativa de um grupo de açordescendentes das ilhas de Hawai’i, Maui, O’ahu e Kaua’i, presidido pela professora universitária Marlene Andrade Hapai, e das diligências desenvolvidas pela Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades ao longo do último ano. Com esta formalização, concretiza-se uma aspiração reconhecida desde a década de 1980, conferindo expressão institucional, no Pacífico, a uma das mais marcantes diásporas açorianas.
Entre 1878 e 1913 emigraram para o Havai mais de 14 mil açorianos, sobretudo para trabalharem nas plantações de cana-de-açúcar, levando consigo práticas culturais como as Festas do Espírito Santo, bem como tradições ligadas à música, à gastronomia e aos valores comunitários, recorda a nota de imprensa.
Atualmente, o arquipélago do Pacífico, situado a cerca de 12 mil quilómetros dos Açores, acolhe dezenas de milhares de açordescendentes, muitos dos quais mantêm uma ligação afetiva profunda às ilhas de origem. A persistência das tradições culturais demonstra, segundo o Governo Regional, a capacidade de enraizamento e preservação identitária da diáspora açoriana ao longo de várias gerações.
A criação da Casa dos Açores do Havai insere-se numa visão mais ampla de um “mundo açoriano” global, com comunidades fortemente implantadas na América do Norte e do Sul, nomeadamente nos Estados Unidos da América, Canadá, Bermuda, Brasil e Uruguai, constituindo uma rede viva de pessoas e instituições com valor estratégico para o futuro da Região.
Nesse contexto, a cooperação entre os Açores e o Havai poderá desenvolver-se em áreas como a partilha de conhecimento entre territórios insulares vulcânicos, a ciência e sustentabilidade do oceano, o turismo de identidade, o intercâmbio educativo e juvenil e a diplomacia cultural.
A ambição da nova Casa dos Açores materializa-se ainda na decisão da comunidade açordescendente de construir, a expensas próprias, o Centro Cultural Saudades, cuja inauguração está prevista para 2026. Implantado num terreno com cerca de 4.000 metros quadrados, o projeto representa um investimento estimado em dois milhões de dólares e acolherá a sede da Casa dos Açores do Havai.
Segundo a nota de imprensa, na sequência desta formalização, vários grupos de havaianos já estão a programar viagens aos Açores, reforçando laços afetivos, promovendo o turismo de raízes e abrindo novas oportunidades de cooperação cultural, científica e económica.
Nos últimos quatro anos, o Governo dos Açores apoiou a criação de quatro novas Casas dos Açores em Apiacá, no Brasil (2022), Coimbra (2024), Belo Horizonte (2025) e agora em Hilo (2025), consolidando uma rede que reflete a ideia de que “ser açoriano é pertencer a um arquipélago e a uma comunidade global”.
As Casas dos Açores são associações representativas das comunidades emigrantes e dos seus descendentes, dedicadas à preservação da identidade açoriana e à promoção de relações culturais, sociais e económicas com a Região Autónoma dos Açores, através de protocolos de cooperação.
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