
A Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH) considerou que o anunciado reforço de voos da SATA Air Açores na ligação Ponta Delgada–Terceira–Ponta Delgada não resolve os problemas estruturais da mobilidade aérea da Ilha Terceira e agrava os desequilíbrios regionais, acusando a companhia e a tutela política de uma estratégia centralista com impactos económicos negativos.
A Direção da Câmara do Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo (CCIAH) reagiu de forma crítica ao anúncio da SATA Air Açores relativo ao reforço de cerca de mil lugares e 15 rotações adicionais na ligação Ponta Delgada–Terceira–Ponta Delgada, considerando que a medida confirma uma estratégia deliberada de centralização da operação aérea em São Miguel. A posição é expressa num comunicado da direção divulgado na segunda-feira, 15 de dezembro, pela CCIAH.
Segundo o comunicado, a associação empresarial entende que este reforço, longe de constituir uma solução estrutural para a mobilidade aérea da Ilha Terceira, tem “consequências gravemente negativas” para a companhia aérea, para a economia terceirense e para o equilíbrio do desenvolvimento regional.
A CCIAH afirma que nunca, desde a retirada das aeronaves da SATA Air Açores que pernoitavam na Terceira durante governos do Partido Socialista, a ilha tinha sido alvo de um “ataque tão profundo, continuado e estrutural” à sua competitividade externa. No seu entender, está em curso a destruição de um modelo de equilíbrio regional, substituído por uma lógica centralista que fragiliza a Terceira, empobrece a Região e compromete o futuro do arquipélago.
No comunicado, a direção da CCIAH sustenta que os dados técnicos disponíveis demonstram que o reforço da operação de Natal exclusivamente via Ponta Delgada, em detrimento de voos diretos ao continente, “destrói valor económico” no próprio Grupo SATA. De acordo com esses dados, esta opção implica entre 100 mil e 150 mil euros em custos operacionais adicionais, entre 280 mil e 400 mil euros de receita não capturada e um prejuízo direto estimado entre 40 mil e 70 mil euros para a SATA Air Açores.
A associação empresarial considera que esta estratégia está a ser suportada financeiramente por todos os Açorianos, questionando quantos mais milhões de euros terão de ser injetados na companhia para sustentar o que classifica como um “centralismo bairrista estéril”. No comunicado, a CCIAH alerta para o impacto desta política na autonomia regional, económica e política dos Açores.
A ausência de voos diretos adicionais terá ainda, segundo a CCIAH, resultado na não deslocação de entre 440 e 640 passageiros num período considerado crítico, traduzindo-se numa perda económica estimada entre 400 mil e 580 mil euros para a economia da Ilha Terceira, com efeitos diretos na hotelaria, restauração, comércio, aluguer de viaturas e outros serviços.
A CCIAH sublinha que o desenvolvimento económico de uma ilha não pode ser feito à custa do enfraquecimento das restantes, defendendo que o sucesso de Ponta Delgada e da Ilha de São Miguel não deve assentar na penalização deliberada das outras ilhas do arquipélago. No mesmo comunicado, a direção rejeita qualquer associação entre o tecido empresarial de São Miguel e uma estratégia de centralismo económico, considerando que tal abordagem prejudica a coesão regional e o próprio conceito de autonomia.
A associação empresarial entende ainda que a decisão não resulta de critérios técnicos ou de mercado, mas de uma “intromissão direta da tutela política” na gestão operacional da SATA. No comunicado, a CCIAH aponta responsabilidades à Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, Berta Cabral, e ao responsável operacional da companhia, Sandro Raposo, considerando que esta interferência condiciona decisões técnicas, fragiliza financeiramente a empresa e penaliza a Ilha Terceira.
A concluir, a CCIAH reafirma que não pede privilégios, mas exige equidade territorial, racionalidade económica, responsabilidade política e respeito por todas as ilhas e por todos os Açorianos. Os empresários da Ilha Terceira, refere o comunicado, continuarão a investir e a trabalhar, mas não aceitarão em silêncio decisões que limitem a mobilidade, destruam competitividade e comprometam o futuro da Região Autónoma dos Açores.
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