
O Bloco de Esquerda dos Açores acusa o Governo Regional de pretender externalizar o serviço de hemodiálise do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, apesar de não existir no arquipélago qualquer clínica privada que realize este tratamento essencial. A denúncia foi feita esta segunda-feira, 3 de novembro, através de um comunicado de imprensa, após uma reunião entre o deputado António Lima e a Associação Portuguesa de Insuficientes Renais (APIR).
De acordo com o comunicado do BE/Açores, o Governo Regional “está a colocar em risco os doentes ao encerrar o serviço sem a garantia de que alguém o vai prestar no privado, ou então já tem o negócio fechado com alguma empresa”. A crítica foi deixada por António Lima, deputado do Bloco no parlamento açoriano, que considera que esta decisão representa “um passo no caminho da privatização do Serviço Regional de Saúde”.
O parlamentar lembrou que a unidade de hemodiálise do HDES “necessita há muito tempo de obras de ampliação e remodelação” para garantir “tratamentos dignos e capacidade de resposta às necessidades existentes”. Estas obras, recorda o BE, estavam incluídas no Plano de Investimentos da Região desde 2023, por proposta do partido, mas “desapareceram agora da proposta de Plano para 2026” apresentada pelo executivo regional.
Segundo o Bloco, a secretária regional da Saúde terá tentado justificar a retirada deste investimento alegando que as empresas responsáveis pelos planos funcionais do hospital preveem a externalização do serviço. António Lima contesta este argumento, sublinhando que “se os planos funcionais preveem essa externalização é porque alguém o pediu”, acrescentando que “as empresas não têm capacidade de decidir que serviços o hospital deve ou não manter”.
O deputado bloquista acusa o Governo Regional de estar “a seguir um caminho que tem como objetivo partir o Serviço Regional de Saúde aos bocados para privatizar”. “Prometeram um novo hospital, um hospital universitário, mais capacitado, e não um hospital para privatizar aos bocados”, frisou.
Para o BE, “não há racionalidade” na decisão de privatizar o serviço de hemodiálise, existindo apenas “uma visão claramente ideológica que pretende que a saúde seja prestada cada vez mais por privados, garantindo os lucros através do Orçamento da Região”.
O partido alerta ainda para as implicações desta opção na gestão de recursos humanos, lembrando que o hospital terá de manter uma pequena unidade para doentes em situação aguda, o que poderá criar dificuldades de pessoal, além da contratação de profissionais para o setor privado.
A APIR, citada no comunicado, defende que a manutenção do serviço de hemodiálise no hospital “dá mais garantias de segurança aos doentes”, pela proximidade com o serviço de urgência e outras especialidades médicas, essenciais em caso de complicações durante o tratamento.
O Bloco de Esquerda anunciou que vai propor no parlamento regional, com caráter de urgência, a audição da secretária regional da Saúde, da diretora do serviço de nefrologia do HDES, das empresas responsáveis pelos planos funcionais e da própria APIR, para “esclarecer os motivos que levaram à decisão de externalizar o serviço e perceber que empresa privada o poderá vir a prestar”.
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