
Mais do que sondagens – que este ano parecem não ter existido ou pelo menos sido divulgadas –, conversas de café ou comentários em redes sociais, é importante analisar fria e racionalmente os resultados eleitorais sempre que o povo é chamado a decidir.
Passados alguns dias das eleições autárquicas e tendo já ouvido diversas opiniões – de camaradas de partido, de amigos de outras forças e de pessoas sem qualquer ligação à política partidária –, concluo que os praienses foram bastante claros na mensagem que passaram nestas eleições.
I. PSD/CDS-PP com benefício da dúvida
A coligação não cresceu expressivamente, mas mereceu a confiança de mais 526 praienses em relação às últimas eleições. Significa isto que, mesmo com um mandato polémico, com decisões altamente contestadas pelas instituições e população e algumas intenções de acentuar a política de austeridade a nível municipal travadas pela Assembleia Municipal – como a situação do aumento da derrama e do IMI –, assim como com um discurso exclusivamente centrado em dívida para justificar alguma falta de ação e até de competência, a maioria dos praienses acabou por concordar com a gestão de Vânia Ferreira e dar-lhe o benefício da dúvida por mais 4 anos.
Há que reconhecer o mérito atribuído pelo povo à presidente reeleita, mas fica a questão: serão mais 4 anos para continuar exclusivamente a recuperar a dívida do município ou este executivo renovado mostrará agora capacidade de apostar no desenvolvimento do concelho nos eixos mais urgentes – como a economia, o turismo, a educação ou a cultura – e começar a apostar no verdadeiro progresso? A bem da Praia, esperemos vir a comprovar a segunda hipótese.
II. O PS a pagar pelo passado
Por muito que se tente explicar todos os investimentos realizados que levaram à dívida, bem como os motivos pelos quais a mesma nunca colocou a Câmara numa situação ingerível, a verdade é que os praienses deixaram claro que não aceitam essa justificação e o PS tem de aceitar e respeitar essa posição.
Marco Martins, líder do projeto que tive a honra de ser um dos responsáveis pela campanha, deixou desde cedo claro que a ideia seria romper com o passado e governar com foco no futuro, mantendo o rigor orçamental e apostando no desenvolvimento e inovação da Praia da Vitória. Mas o facto de o PS ter tido cerca de menos 300 votos em relação a 4 anos e nas eleições deste ano menos 1.203 votos do que a coligação PSD/CDS-PP leva-me a concluir que esta não foi uma nota vermelha diretamente ao candidato, mas à gestão do passado.
Não concordando com a visão da maioria dos eleitores e lamentando que não tenha sido confiado o projeto e equipa que integrava, não deixo de aceitar com humildade a sua soberania.
No entanto, é fundamental o PS renovar-se internamente, com Marco Martins a liderar essa transformação e a assumir o papel de líder da oposição nos próximos 4 anos. Uma oposição que será construtiva, mas não deixará de denunciar o que for menos correto. Um PS renovado, com quadros preparados para assumirem a linha da frente daqui a 4 anos nas freguesias e no município, poderá traduzir-se numa alternativa credível para a Praia.
III. O CHEGA caiu do burro
Francisco Lima e o CHEGA foram claramente os grandes derrotados destas eleições. O candidato apontou sempre o seu objetivo para pelo menos 30% dos votos, mas ficou apenas pelos 6,94% – apenas 721 eleitores acreditaram num projeto vago coberto por uma campanha populista baseada em ataques e levantamentos de suspeitas infundamentadas sobre tudo e sobre todos.
O CHEGA confundiu um povo humilde e divertido, como são os praienses, com um povo desinformado e sem inteligência, mas teve a sua devida resposta.
Política faz-se com propostas concretas e com denúncias sérias e fundamentadas. O CHEGA, como seria de esperar, não esteve minimamente à altura de tal missão.
IV. Os mais equilibrados: abstenção, CDU e BE
Comparativamente a 2021, é de lamentar que mais de 50% dos praienses tenham optado novamente por não manifestar o seu sentido de voto. Embora seja a abstenção um direito, as eleições são uma arma e um exercício de julgamento que o povo não devia ignorar, independentemente da sua identificação ou não com as opções políticas que concorrem – podendo expressar isso mesmo nas urnas.
A CDU teve 73 votos, apenas mais 1 face à eleição de 2021, enquanto o BE perdeu 4 votos e teve agora 84 no total. Em qualquer um dos casos, os partidos mais pequenos continuam a estar fechados em si próprios e não têm sido capazes de atrair o eleitorado. Seria bom para a democracia da nossa terra vê-los renovados, com mais força e expressão junto das pessoas – ganharíamos todos.
Seguem-se quatro anos de trabalho. Com uma Câmara Municipal composta por 4 elementos do PSD/CDS-PP com pelouro e 3 do PS na oposição. Com uma Assembleia Municipal estável, com 11 deputados da coligação, 9 do PS e 1 do CHEGA. Com 7 Juntas de Freguesia do lado da coligação – embora em Agualva a Junta seja apenas PSD – e 4 do PS.
Independentemente das conclusões distintas que se possam tirar, é inegável afirmar que a democracia funcionou. Saibam os vencedores fazer o melhor com isso. Pela parte do PS, sendo suspeito, estou certo de que assim será. Terminarei as minhas funções nos órgãos concelhios, mas continuarei atento e ativo, disponível para o partido e sobretudo para a Praia da Vitória. E continuaremos, como sempre e enquanto assim os responsáveis editoriais entenderem, a encontrar-nos nas páginas deste jornal. Pela Praia da Vitória.
Rodrigo Pereira
