
O presidente da Federação Agrícola dos Açores (FAA), Jorge Rita, rejeitou na passada sexta-feira, 3 de outubro, a ideia de que a atividade agrícola seja a principal responsável pela poluição das águas das ribeiras em São Miguel, apontando outras origens para o problema. As declarações foram proferidas na abertura do seminário “Os Agricultores São Ambientalistas”, promovido pelo Movimento Ambiente e Produção Alimentar (MAPA), na Faculdade de Ciências Agrárias e do Ambiente, em Angra do Heroísmo.
De acordo com o comunicado de imprensa da FAA, Jorge Rita alertou para “outras fontes poluidoras, como esgotos domésticos, esgotos da atividade industrial, escorrências das estradas, ou até mesmo o deficiente funcionamento de algumas estações de tratamento de águas residuais”. O dirigente lamentou que “sejam sempre os agricultores a arcar com a responsabilidade” e reconheceu que a atividade agrícola tem impacto ambiental, mas de forma parcial: “A atividade agrícola tem responsabilidade parcial, sim, mas não total, e é preciso desmistificar isto.”
No mesmo seminário, o presidente da FAA destacou que, apesar de “algumas falhas”, os agricultores açorianos são “ambientalistas”, mas advertiu para os efeitos da falta de mão de obra no setor, que está a conduzir à concentração de explorações: “Pode levar, claramente, a que tenhamos muita matéria orgânica disponível e fazer com que os agricultores sejam menos ambientalistas.”
Rita lamentou ainda a ausência de uma política regional eficaz para o aproveitamento da matéria orgânica, sublinhando o trabalho desenvolvido por investigadores da Universidade dos Açores. Para o dirigente, a situação poderia ser resolvida através de candidaturas ao PEPAC – Plano Estratégico da Política Agrícola Comum 2023-2027, “por empresas especializadas na transformação de matéria orgânica”, mas o atraso na implementação do programa tem impedido esse caminho.
Recordando o problema da eutrofização das lagoas de São Miguel, Jorge Rita frisou que a questão não se deve exclusivamente à agricultura: “Infelizmente, passados 20 anos, as lagoas continuam eutrofizadas, o que prova que o problema não tem só a ver com a agricultura.”
O responsável manifestou ainda preocupação com a possibilidade de uma “grande redução de verbas para a agricultura” em 2026, no Plano do Governo dos Açores: “Isso assusta-me, porque com a entrada de um programa comunitário, estamos a receber um sinal de que o apoio vai ser residual.”
O seminário “Os Agricultores São Ambientalistas” reuniu especialistas e representantes do setor agrícola e empresarial. Segundo Graça Mariano, responsável pelo MAPA, o encontro teve como objetivo esclarecer os consumidores sobre a origem dos alimentos e refletir sobre o papel da agricultura nas ilhas.
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