
Depois de quatro episódios da minissérie “As Contas da Câmara Municipal da Praia da Vitória” ficámos todos a saber, com direito a suspense e moralidade final, que tudo o que se fez na Praia da Vitória ao longo de décadas teria sido fruto de coragem, rigor e visão estratégica. Pena é que, quando se levantam as cortinas, se perceba que o palco não tem só cenário, ou seja, também há bastidores. E nos bastidores, como alertaram os relatórios do Tribunal de Contas de 2012 e 2018, a história era outra.
Aliás, cito o relatório de 2018, para não parecer que é opinião:
“Donde se poderá concluir que as sucessivas operações feitas pelo Município da Praia da Vitória, relativamente às entidades controladas têm como efeito ocultar a real situação financeira do Município.”
É isto mesmo. Enquanto se produziam comunicados triunfais, a dívida ia sendo distribuída por empresas municipais, cooperativas e sociedades de desenvolvimento, ou seja, um perímetro paralelo onde as regras e o escrutínio dos órgãos municipais raramente chegavam. Não foi por acaso que o PSD, na oposição, repetiu vezes sem conta que nem tudo o que parecia… era.
Quando se fala em redução de dívida convém não confundir passivo não corrente (empréstimos de médio e longo prazo) com a dívida do dia-a-dia, a fornecedores, instituições e coletividades. Aqui, sim, houve uma mudança concreta, de 82 dias médios para pagar (2021) para apenas 17 dias (2024). Para as empresas, famílias e associações locais, isto não é propaganda são factos concretos.
Sobre os fundos comunitários, a narrativa é igual. Enquanto nos textos se lamenta o problema financeiro que impedia investir, hoje sabe-se que a execução dos fundos caminha com saúde, justamente porque se consolidaram as contas de todo o Sector Empresarial Local e não apenas Câmara Municipal, Praia Ambiente e Cooperativa Praia Cultural, mas também as “filhas e enteadas” como a Sociedade para o Desenvolvimento da Praia da Vitória ou a Praia em Movimento.
Em vez de falar em retoma em 2025, como se fosse uma espécie de renascimento milagroso, convém lembrar que quem hoje tenta vender esta narrativa é exatamente quem, no mandato anterior, deixou a casa em desordem, criou o problema e agora se apresenta como salvador. É o mais velho truque da política: primeiro hipotecaram o futuro da Praia com dívidas escondidas em empresas municipais, depois paralisaram investimentos fundamentais, e agora querem convencer os praienses de que foram eles a fazer tudo correto, mas apenas limitaram-se a encenar uma recuperação que só existiu no papel.
Os exemplos abundam. Fala-se dos sintéticos que afinal foram pagos pela Cooperativa. Fala-se de limites de endividamento cumpridos, mas omitem-se as dívidas fora do perímetro. Fala-se de “planos estratégicos” enquanto se deixava para trás a redução real da dívida aos fornecedores.
Na Praia da Vitória não bastam narrativas. O trabalho sério é feito com consolidação integral de contas, redução efetiva dos prazos de pagamento e execução dos fundos comunitários, mas não com folhas Excel de faz-de-conta. É isso que garante credibilidade e sustentabilidade.
No fundo, a minissérie em quatro episódios resume-se a justificar a competência delegada em 2017 do pelouro financeiro e que foi retirada meses antes das eleições de 2021, por desentendimento.
Podem continuar a escrever minisséries. Nós, por cá, continuamos a trabalhar para que a Praia tenha futuro, desenvolvimento e potencial sem truques ou malabarismos de bastidores. E, já agora, sem medo de chamar as coisas pelos nomes: os praienses merecem transparência e resultados, não apenas propaganda pré-eleitoral.
Vitória Silva
Candidata na lista do PSD/CDS-PP à Câmara Municipal da Praia da Vitória.
NE: Artigo originalmente publicado no DI na edição do dia 19 de setembro de 2025.
