
Recentemente, em entrevista a um canal denominado “CHEGA às 9”, o candidato do CHEGA à Câmara Municipal de Ponta Delgada – José Pacheco – proferiu declarações que, para além de ofensivas, revelam um profundo desconhecimento acerca do trabalho e missão do serviço social, ao afirmar que “as assistentes sociais gostam de manter a pobreza porque já desistiram da profissão” e “para não se aborrecerem dão subsídios”.
O candidato, que tem por hábito atacar diversas classes trabalhadoras, como já se verificou com docentes, médicos e jornalistas, não só insulta diretamente centenas de profissionais competentes e dedicados, como, também, denigre a formação de excelência ministrada pela Universidade dos Açores, que anualmente habilita profissionais para o exercício das suas funções, na esfera do Serviço Social e não só.
Como estudante-trabalhadora e futura assistente social, não posso compactuar com o silêncio perante mais este ataque gratuito e injusto, pois o Serviço social é uma profissão baseada em princípios éticos, técnicos e científicos. Algo que não abunda pelos lados do partido, pelo qual o senhor se candidata.
Formamo-nos para compreender e atuar sobre as causas estruturais da pobreza e da inclusão, e não para perpetuá-las. Atribuir às assistentes sociais a intenção de “manter a pobreza” é no mínimo, uma afronta à verdade e um desrespeito à realidade do trabalho diário de todos os profissionais que dão o seu melhor, aprendendo com os projetos que concretizam e aperfeiçoando as suas competências.
A pobreza não se combate com frases de efeito ou culpabilizando as suas vitimas. Muito menos com a estigmatização e exclusão de pessoas, em situações de vulnerabilidade.
Combate-se, sim, com políticas publicas sólidas, acesso a emprego digno, habitação, saúde, educação e, sobretudo, com profissionais qualificados a atuar no terreno. Ao contrário do que é afirmado pelo candidato, os assistentes sociais não distribuem “subsídios” por comodismo ou facilitismo. Executam medidas previstas na Lei, integradas em programas de apoio social, que visam responder às necessidades urgentes, criando condições para a autonomia futura das pessoas.
O discurso do candidato José Pacheco simplifica uma questão complexa e, pior, espalha um estigma perigoso: o de que quem está em situação de vulnerabilidade, é preguiçoso ou dependente por escolha. Tal narrativa (uma velha teoria da idade média) não apenas desumaniza os cidadãos em dificuldades, como também mina o respeito e a confiança na profissão que luta pela dignidade dessas pessoas.
Preocupa-me o silencio institucional que se seguiu a estas declarações. Não houve, até ao momento, uma resposta pública contundente da parte das entidades que deveriam defender o bom nome e a credibilidade do serviço social. O perigo de deixar estas afirmações passarem impunes é a contribuição para a normalização do preconceito, corroendo a base da solidariedade social.
Enquanto futura assistente social, estudando para uma licenciatura, na Universidade dos Açores, deixo claro que não desistimos da nossa profissão, persistimos porque acreditamos que cada vida merece dignidade e oportunidade.
Não “mantemos a pobreza”. Combatemos diariamente as suas causa e consequências, muitas vezes com recursos limitados e em contextos adversos.
Não aceitamos que discursos populistas transformem o trabalho sério e ético de uma profissão e que essa seja alvo de desinformação e desprezo.
A sociedade merece conhecer a verdade sobre o Serviço Social. E nós, estudantes e profissionais, merecemos respeito. Não é apenas a nossa reputação que esta em causa, mas a própria luta contra a desigualdade e a justiça social.
Márcia Pimentel
