ANA BRANCO: “CADA PASSO DADO VALEU A PENA, PORQUE FOI DADO COM VERDADE, EMPATIA E TOTAL TRANSPARÊNCIA”

Entrevista à Presidente da Junta de Freguesia do Porto Martins sobre o mandato 2021–2025.

Neste ano de eleições autárquicas, agendadas para o próximo dia 12 de outubro, lançamos um olhar sobre o trabalho desenvolvido nas freguesias do concelho da Praia da Vitória ao longo do último quadriénio 2021-2025.

Com este objetivo, iremos apresentar entrevistas com os presidentes de Junta das 11 freguesias do concelho, utilizando o mesmo conjunto de perguntas. O propósito é promover a transparência, dar voz aos autarcas locais e proporcionar à população um balanço realista do que foi feito, dos desafios enfrentados e das aspirações para o futuro.

Ao longo desta série de entrevistas por escrito, publicadas por ordem de prontidão nas respostas, ficará disponível um retrato tão abrangente quanto possível da ação autárquica de proximidade, essencial para a qualidade de vida dos fregueses e para o desenvolvimento equilibrado de todo o nosso concelho da Praia da Vitória.


Nesta 7.ª entrevista desta série, Ana Branco, presidente da Junta de Freguesia do Porto Martins nos últimos sete meses, faz um balanço do seu curto mas intenso mandato, marcado por um forte espírito de serviço público, proximidade com a população e gestão rigorosa dos recursos disponíveis. Assumindo a liderança após integrar o anterior executivo, destaca como principal conquista a manutenção de uma freguesia ativa, limpa e funcional, apesar das limitações orçamentais que continuam a afetar as juntas de freguesia.

Ao longo da entrevista, são evidenciadas intervenções de proximidade que tiveram impacto direto na qualidade de vida da população, como a requalificação de espaços comunitários — nomeadamente a churrasqueira do Porto São Fernando, a Peça do Peão e o solário da Poça do Alberto. Ana Branco sublinha também o papel da Junta na valorização da zona balnear, especialmente no combate à alga invasora, e no acompanhamento de processos estruturais, como a candidatura à reabilitação da orla costeira em São Vicente.

A entrevista revela ainda o dinamismo imprimido à freguesia através da realização de feiras de produtos locais, eventos culturais e iniciativas direcionadas à juventude e aos idosos. Estas ações, para além de reforçarem a identidade local, fomentaram o envolvimento comunitário e o sentimento de pertença, pilares que a presidente considera fundamentais para o desenvolvimento sustentável da freguesia.

Apesar de não se recandidatar por motivos pessoais, Ana Branco afirma sair com a consciência tranquila, deixando projetos encaminhados e uma estrutura sólida para quem vier a assumir o cargo. Nesta entrevista, partilha a sua visão sobre os desafios futuros do Porto Martins e reforça a importância da cooperação institucional, do envolvimento cívico e da dedicação genuína à causa pública.

Quais considera serem os principais resultados e conquistas alcançados pela Junta de Freguesia ao longo deste mandato?

Ao longo deste mandato, de apenas 7 meses, considero que a Junta de Freguesia do Porto Martins deu passos muito importantes, tanto na resposta às necessidades da população como no reforço da proximidade e da cooperação com as diversas instituições locais. A maior conquista, sem dúvida, foi termos conseguido manter uma freguesia ativa, limpa, cuidada e funcional, mesmo com os recursos financeiros limitados que as Juntas de Freguesia infelizmente continuam a ter.

Conseguimos melhorar e manter em bom estado diversos espaços públicos, como zonas ajardinadas, pequenas vias, valetas e muros de suporte, e demos continuidade ao apoio logístico a todas as coletividades da freguesia — nomeadamente às instituições culturais, desportivas, sociais e religiosas — sempre que nos foi solicitado.

Apostámos na valorização da nossa baía, da piscina natural e da poça do Alberto junto ao Porto São Fernando, assegurando a sua limpeza diária, especialmente perante os desafios ambientais recentes como a presença de uma alga invasora que tem afetado as zonas balneares. Este esforço, embora exigente, foi essencial para garantir a segurança, a higiene e a atratividade da zona balnear, tão importante para o turismo e para o bem-estar da população local.

Outro resultado importante foi termos reforçado a relação interinstitucional, em especial com a Câmara Municipal da Praia da Vitória e outras entidades regionais. Destaco, por exemplo, o acompanhamento do processo de candidatura a fundos comunitários para a reabilitação da orla costeira na zona de São Vicente, gravemente afetada pela erosão do mar. Trata-se de uma situação crítica, que exige uma resposta estrutural urgente, e temos feito o nosso papel de insistir e acompanhar este processo.

Foram, portanto, conquistas construídas com muito trabalho, dedicação e espírito de equipa, sempre com o foco na melhoria da qualidade de vida da nossa comunidade. Apesar de todos os constrangimentos, conseguimos fazer mais do que esperávamos. E isso, para mim, é motivo de orgulho.

Quais foram as obras ou intervenções mais relevantes realizadas na freguesia entre 2021 e 2025?

Embora tenha assumido a presidência da Junta de Freguesia apenas a 18 de dezembro de 2024, sucedendo ao anterior executivo de que já fazia parte como secretária desde 2021, posso falar com conhecimento de causa sobre o trabalho desenvolvido ao longo deste período, especialmente nestes últimos sete meses de mandato, em que tive a responsabilidade de liderar a Junta.

Entre as intervenções mais relevantes destaca-se a requalificação da churrasqueira da zona piscatória do Porto São Fernando. Esta intervenção permitiu não só melhorar as condições existentes, como também valorizar o espaço como ponto de convívio comunitário.

Foi igualmente executada a ampliação da zona de lazer da Peça do Peão, com a colocação de mais uma churrasqueira e uma mesa, o que veio melhorar substancialmente a funcionalidade e o conforto desse espaço. Pequenas obras como estas, apesar de simples, têm um impacto direto na qualidade de vida das pessoas e na atratividade da freguesia.

Procedemos também a melhorias na Casa Mortuária, um espaço sensível, que exige dignidade e cuidado, e onde era necessário fazer pequenos arranjos que há algum tempo vinham sendo identificados como prioritários.

Outro ponto de intervenção foi o arranjo do solário da Poça do Alberto, junto ao Porto São Fernando, uma zona costeira com grande significado para os habitantes da freguesia. Esta melhoria permitiu aumentar a segurança e o conforto daquele espaço, valorizando ainda mais a nossa frente marítima.

São obras de proximidade, de utilidade prática e simbólica, feitas com os recursos que tínhamos disponíveis e com a colaboração da equipa da Junta. Acredito que estas pequenas grandes intervenções são a base do serviço público local — melhorar o que existe, valorizar os espaços comunitários e responder com eficácia ao que a população precisa.

Existem iniciativas ou projetos que se destacam por terem tido um impacto positivo duradouro na comunidade?

Sim, acredito que uma das maiores mais-valias deste mandato foi a capacidade de trazer mais vida e dinamismo ao Porto Martins, especialmente através da promoção de eventos que valorizam os nossos produtos locais e o talento da nossa comunidade. Entre essas iniciativas, destaco com muito orgulho a organização de feiras de produtos locais, realizadas em momentos estratégicos do ano — uma durante a quadra natalícia e duas edições na época da Páscoa.

Estas feiras foram muito mais do que simples eventos comerciais. Foram momentos de reencontro entre vizinhos, de partilha entre gerações, de celebração da identidade local e de promoção da nossa economia de pequena escala. Criaram-se oportunidades para os nossos produtores, artesãos e empreendedores locais mostrarem o seu trabalho, venderem os seus produtos e se sentirem valorizados. Além disso, contribuíram para a atração de visitantes à freguesia, reforçando a nossa posição como local de referência cultural e social na ilha.

O impacto destas feiras tem sido muito positivo, e diria até duradouro, porque abriram portas para que mais pessoas acreditem no potencial do que é feito localmente. Houve também um efeito mobilizador: a comunidade participou, envolveu-se, e essa dinâmica é algo que queremos manter e reforçar.

Acrescento ainda o Dia da Freguesia, uma iniciativa em que apostámos claramente no convívio comunitário, promovendo atividades culturais, recreativas e sociais que têm tido, de ano para ano, uma maior aderência por parte da população. Este evento tem vindo a afirmar-se como um momento-chave no calendário local, fortalecendo laços e reforçando o orgulho em pertencer ao Porto Martins.

Estas ações, apesar de simples, fazem toda a diferença no sentimento de pertença e na autoestima coletiva. E mostram que, mesmo com recursos limitados, é possível criar impacto quando há vontade, espírito de equipa e envolvimento da comunidade. Essa tem sido uma das nossas maiores prioridades: estar próximo das pessoas, ouvir, apoiar e criar momentos que fortaleçam o nosso tecido social.

Que dificuldades enfrentou ao longo do mandato, tanto a nível orçamental como logístico ou institucional?

Ao longo deste mandato, como em qualquer função autárquica, enfrentámos várias dificuldades — algumas previsíveis, outras que surgem no decorrer do trabalho e que exigem adaptação e resiliência. No entanto, quero começar por sublinhar que, pessoalmente e institucionalmente, tenho contado com um importante apoio por parte da Câmara Municipal da Praia da Vitória e também do Governo Regional, nomeadamente em áreas que exigem cooperação mais alargada ou intervenção técnica especializada.

No entanto, o principal desafio continua a ser o limitado orçamento das Juntas de Freguesia, que muitas vezes nos obriga a fazer escolhas difíceis entre necessidades igualmente importantes. As verbas transferidas não são, por norma, suficientes para responder a tudo aquilo que a população legítima e justamente espera do poder local. Esta limitação orçamental obriga-nos a focar na gestão rigorosa dos recursos e a procurar constantemente soluções criativas, apoios externos e colaborações para concretizar obras e iniciativas.

Do ponto de vista logístico, sentimos igualmente falta de infraestruturas básicas que nos dariam mais autonomia na execução dos trabalhos do dia a dia. Por exemplo, a ausência de um armazém ou de um espaço amplo para a instalação de uma pequena oficina própria limita-nos bastante, sobretudo ao nível da organização de materiais e da capacidade de resposta técnica e operacional. Infelizmente, os terrenos na freguesia são escassos e muito caros, o que dificulta esse tipo de investimento com os meios financeiros de que dispomos.

No plano institucional, embora a colaboração com as entidades superiores tenha sido positiva, continua a ser necessário reforçar os mecanismos de descentralização e autonomia das freguesias, para que possamos responder mais rapidamente e eficazmente às necessidades locais. Muitas vezes, dependemos de processos longos, técnicos ou administrativos que atrasam intervenções urgentes, nomeadamente em áreas como obras públicas, orla costeira, ambiente e habitação.

Apesar de tudo, o saldo é positivo. Trabalhámos sempre com espírito de missão, com total transparência e dedicação. Estas dificuldades nunca nos impediram de cumprir o nosso dever: estar ao lado da população, ouvir, agir e servir com sentido de responsabilidade.

Como tem sido a relação da Junta com a Câmara Municipal da Praia da Vitória e com outras entidades públicas? Houve cooperação eficaz?

Sim, posso afirmar com confiança e reconhecimento que a relação da Junta de Freguesia do Porto Martins com a Câmara Municipal da Praia da Vitória tem sido pautada pela cooperação, diálogo e eficácia. Ao longo deste mandato, sempre que recorremos à Câmara para apoio técnico, logístico ou financeiro, fomos ouvidos e, dentro das possibilidades existentes, as respostas chegaram.

É importante valorizar que esta relação se baseou num respeito mútuo pela autonomia de cada órgão, mas também num espírito de parceria em prol da nossa população. A Junta conhece de perto as necessidades do dia a dia da freguesia, e a Câmara tem procurado estar disponível para ajudar, particularmente em matérias que ultrapassam a nossa capacidade de resposta direta, como obras de maior dimensão, manutenção da orla costeira e acessibilidades.

Também destaco a colaboração com outras entidades públicas, nomeadamente o Governo Regional dos Açores, que tem acompanhado de perto algumas das nossas preocupações mais sensíveis, como é o caso da erosão costeira na zona de São Vicente e da situação ambiental na baía, com o surgimento da alga invasora. Embora nem sempre as respostas sejam imediatas, há um canal de comunicação aberto e uma consciência partilhada sobre os problemas e prioridades do Porto Martins.

Acredito que esta cooperação institucional é essencial para que as freguesias pequenas, como a nossa, consigam atingir resultados concretos e defender os interesses das suas populações. Trabalhar em articulação, sem perder a identidade e a proximidade que caracterizam o poder local, é um dos pilares fundamentais de uma governação equilibrada e eficaz. E nesse aspeto, considero que fizemos o nosso papel e soubemos construir pontes onde era necessário.

A Junta apostou em iniciativas nas áreas da ação social, cultura, desporto ou juventude? Pode dar exemplos concretos?

Sim, temos feito questão de apostar de forma muito concreta nas áreas da cultura, da ação social e da juventude, dentro das possibilidades da Junta de Freguesia, sempre com o objetivo de valorizar a nossa identidade local, apoiar os mais vulneráveis e criar oportunidades para os mais jovens.

Na área cultural, destacaria as feiras de produtos locais, que têm sido uma aposta muito bem-sucedida. Realizámos uma edição na época de Natal e duas durante a Páscoa, e todas tiveram uma forte adesão por parte da população e dos expositores locais. Estas feiras não só dinamizaram a economia local, como também ajudaram a preservar tradições, a divulgar o que de melhor se faz no Porto Martins e a criar um ambiente de convívio intergeracional muito saudável.

No campo social, embora a Junta não tenha competências diretas alargadas nesta área, temos mantido uma postura ativa de apoio às famílias e instituições da freguesia, sempre que nos é solicitado. Colaboramos regularmente com os dois centros de dia existentes, respondemos a pedidos de ajuda pontuais — por exemplo, com transportes ou apoio logístico — e procuramos estar atentos às necessidades de quem mais precisa.

Relativamente à juventude, soubemos identificar uma lacuna importante na oferta de atividades para os mais novos durante o mês de julho. Como não havia campos de férias organizados por outras entidades nessa altura, a Junta de Freguesia estabeleceu uma parceria com a senhora Ana Rita Carvalho, criando uma oferta local para que as crianças e jovens pudessem usufruir de atividades educativas e recreativas durante esse período. Foi uma iniciativa simples, mas muito valorizada pelas famílias.

Na área do desporto, temos procurado apoiar e fomentar a prática regular de atividade física através de parcerias locais e da cedência de espaços. Atualmente, contamos com a colaboração de uma baby class de ballet, que decorre numa das salas da Junta de Freguesia, e com um personal trainer que dinamiza aulas no pavilhão desportivo do Porto Martins, promovendo estilos de vida saudáveis e acessíveis à população.

Adicionalmente, acolhemos também aulas de ioga, realizadas igualmente num dos espaços da Junta, permitindo assim uma oferta diversificada que responde a diferentes faixas etárias e interesses. Sempre que nos é solicitado e temos disponibilidade, abrimos o pavilhão para a prática desportiva informal por parte dos jovens da freguesia, contribuindo para a ocupação saudável dos seus tempos livres.

Estas ações demonstram que, mesmo sem recursos ilimitados, é possível incentivar o desporto e o bem-estar físico através da colaboração, da proximidade com a comunidade e da boa utilização dos recursos disponíveis. O nosso objetivo tem sido, acima de tudo, garantir que a freguesia oferece oportunidades acessíveis e inclusivas para todos os que queiram praticar desporto ou manter um estilo de vida ativo, mostram que, mesmo com recursos limitados, é possível fazer a diferença quando há vontade de servir e sentido de missão.

Que medidas foram implementadas para aproximar os cidadãos da Junta de Freguesia e promover a sua participação cívica?

Uma das prioridades deste mandato tem sido reforçar a ligação entre a Junta de Freguesia e a comunidade, promovendo a participação cívica ativa e o envolvimento direto dos cidadãos nas questões que dizem respeito à vida coletiva. Acreditamos que uma freguesia forte é aquela em que os habitantes se sentem parte das soluções — e não apenas recetores de decisões.

Para isso, implementámos diversas ações de sensibilização ambiental, com especial destaque para as limpezas da orla costeira, que têm contado com o apoio de voluntários da freguesia, de instituições locais e até de visitantes. Estas iniciativas, para além de contribuírem para a proteção do nosso território, são também momentos de educação ambiental, de partilha intergeracional e de reforço do sentimento de pertença à nossa terra.

Além disso, temos procurado manter uma comunicação constante com a população, tanto presencialmente, através da nossa proximidade no dia a dia, como através dos meios digitais, nomeadamente nas redes sociais da Junta, onde partilhamos informação útil, avisos e eventos.

Também damos atenção especial à escuta ativa, valorizando sugestões, críticas construtivas e propostas apresentadas pelos cidadãos. Sempre que possível, integramos essas contribuições na nossa ação executiva, porque entendemos que ninguém conhece melhor as necessidades de uma freguesia do que os próprios fregueses.

Estas medidas refletem a nossa convicção de que a cidadania se constrói no terreno, com gestos concretos, e que o papel da Junta não é apenas gerir, mas também inspirar e mobilizar a comunidade para causas comuns.

A freguesia tem conseguido dar resposta às necessidades dos mais jovens, dos idosos e das famílias em situação vulnerável?

A realidade é que, dentro das competências limitadas das Juntas de Freguesia, temos procurado estar atentos, presentes e disponíveis para dar resposta — tanto quanto possível — às necessidades das várias faixas etárias da nossa população, sobretudo dos mais jovens, dos idosos e das famílias em maior vulnerabilidade.

No caso dos jovens, como já referimos a junta de freguesia, avançou com uma parceria com a senhora Ana Rita Carvalho, para garantir a realização de atividades lúdico-educativas. Esta iniciativa permitiu que as crianças e jovens da freguesia tivessem acesso a momentos de aprendizagem, socialização e diversão durante o verão — um apoio importante também para as famílias trabalhadoras.

No que diz respeito aos idosos, embora o Porto Martins não tenha lares de terceira idade, contamos com dois centros de dia que desempenham um papel fundamental no apoio diário à população sénior. A Junta colabora sempre que é solicitada, seja através de apoio logístico, transporte, pequenas intervenções ou articulação institucional. Acresce ainda o facto de o Porto Martins ter sido uma das poucas freguesias da ilha escolhidas para integrar um projeto do Lar D. Pedro V, que dinamiza atividades específicas junto dos nossos idosos, promovendo o envelhecimento ativo e a inclusão social.

Quanto às famílias em situação vulnerável, temos mantido uma postura de proximidade e escuta ativa, com pequenas ajudas logísticas — procuramos estar onde é preciso, quando é preciso, mesmo que isso nem sempre seja visível.

Apesar de não termos todos os meios nem todas as competências formais, temos algo que considero fundamental: vontade de ajudar, conhecimento do terreno e uma equipa que acredita no valor da solidariedade local. E isso faz toda a diferença.

Qual é o estado atual das finanças da Junta? Considera que a gestão orçamental foi equilibrada e sustentável?

Sim, ao longo deste mandato, sempre procurámos manter uma gestão orçamental equilibrada, ponderada e consciente das limitações que enfrentamos enquanto Junta de Freguesia. Trabalhámos com rigor, transparência e responsabilidade, assegurando que cada euro fosse bem aplicado em benefício da comunidade.

É importante reconhecer que os recursos financeiros atribuídos às Juntas de Freguesia são geralmente escassos, sobretudo quando comparados com o volume de responsabilidades que se acumulam, muitas vezes, informalmente. No entanto, conseguimos cumprir os nossos compromissos, realizar obras e apoiar iniciativas sem nunca comprometer a sustentabilidade das contas públicas da freguesia.

Essa gestão prudente permitiu-nos avançar com pequenas intervenções importantes — como a requalificação de espaços públicos, apoio a eventos e atividades, e colaboração com instituições locais — sem criar qualquer tipo de dívida ou desequilíbrio financeiro. Nunca gastámos mais do que aquilo que tínhamos, e todas as decisões foram tomadas com base numa análise realista das nossas capacidades.

Mesmo sabendo que “é sempre pouco” para tudo aquilo que gostaríamos de fazer, temos consciência tranquila de que gerimos com seriedade, proximidade e com o máximo de aproveitamento dos recursos disponíveis. E isso, para mim, é um sinal de respeito não só pelas contas públicas, mas sobretudo pelas pessoas que servimos.

Há projetos que ficaram por realizar neste mandato e que considera prioritários para o futuro da freguesia?

Sim, é inevitável que, num mandato tão curto como o meu — com apenas sete meses à frente da Junta de Freguesia — nem todos os projetos a que nos propusemos pudessem ser concluídos. No entanto, conseguimos concretizar várias pequenas obras e iniciativas com impacto real na vida da comunidade, o que considero já muito positivo, tendo em conta o tempo disponível e os constrangimentos administrativos que enfrentámos.

Alguns dos projetos que ficaram por realizar ficaram pendentes sobretudo por razões burocráticas, outras por questões de calendarização e execução que ultrapassavam a nossa capacidade de resposta imediata. Como é do conhecimento de todos os que gerem instituições públicas, há prazos, autorizações e procedimentos legais que muitas vezes atrasam aquilo que gostaríamos de ver resolvido com maior celeridade.

Ainda assim, deixamos já encaminhados alguns desses projetos, para que possam ser concretizados no próximo mandato, independentemente de quem venha a assumir os destinos da Junta. Acredito firmemente que a freguesia não pertence a um executivo, mas a todos os seus habitantes, e por isso os projetos em curso são também um compromisso com a população.

Entre esses projetos, há intervenções de pequena e média escala que visam melhorar o espaço público, apoiar as instituições locais e reforçar a capacidade de resposta da Junta, como por exemplo a criação de um espaço de armazém/oficina — uma necessidade urgente — e a continuação da requalificação de infraestruturas comunitárias.

Embora nem tudo tenha sido possível concluir neste curto período, deixo com a consciência tranquila de que o que foi feito, foi feito com seriedade, trabalho e respeito pela freguesia. E que o que ficou por fazer está já pensado, planeado e preparado para avançar, desde que haja continuidade no compromisso e vontade política para isso.

Na sua visão, quais os desafios e oportunidades que a freguesia deve vencer nos próximos quatro anos?

A freguesia do Porto Martins, como qualquer outra comunidade viva e dinâmica, enfrenta sempre novos desafios — e ainda bem que assim é. Os desafios obrigam-nos a crescer, a procurar soluções criativas e a unir esforços em torno de causas comuns. Nos próximos quatro anos, haverá certamente muito a fazer e, ao mesmo tempo, muitas oportunidades que devem ser bem aproveitadas para o desenvolvimento sustentável e harmonioso da freguesia.

Um dos desafios mais urgentes — e que exige uma resposta concreta a curto prazo — é a situação da orla costeira, particularmente na zona do Lugar de São Vicente. Este é um ponto crítico onde o mar tem avançado perigosamente sobre a terra, colocando em risco a segurança de pessoas, bens e o uso de caminhos por onde circulam regularmente alfaias agrícolas. Esta preocupação tem sido constante para nós, e aguardamos com grande expectativa o resultado da candidatura que a Câmara Municipal da Praia da Vitória submeteu a fundos comunitários para intervenção nesta área. Essa obra é essencial, e a sua concretização será um marco para a proteção do território e da atividade agrícola local.

Outro desafio importante diz respeito à fixação de população jovem e ao aproveitamento do potencial agrícola da freguesia, nomeadamente na reativação da produção de vinha e da azeitona, duas áreas em que Porto Martins tem tradição, mas que têm vindo a perder expressão. Com incentivos adequados e políticas de apoio à agricultura jovem, é possível revitalizar estes setores e criar emprego, combater o abandono e valorizar os nossos recursos.

Há também oportunidades evidentes na área do turismo, onde o Porto Martins tem vindo a crescer de forma constante. O aumento do número de alojamentos locais, a atratividade da zona balnear e a identidade própria da freguesia tornam-na um destino apetecível. O desafio aqui é garantir um crescimento equilibrado, com qualidade e respeito pelo ambiente e pela comunidade.

Por fim, acredito que as parcerias entre instituições locais, autarquia e entidades regionais continuarão a ser chave para resolver problemas, promover projetos e dar resposta às necessidades da população. O futuro do Porto Martins será aquilo que todos nós — eleitos, cidadãos e associações — formos capazes de construir em conjunto.

Por fim, que mensagem gostaria de deixar aos fregueses do Porto Martins no final deste mandato autárquico?

Neste momento em que me preparo para concluir o meu mandato como Presidente da Junta de Freguesia do Porto Martins, gostaria de deixar uma mensagem sentida, de coração cheio, a todos os fregueses. Assumi esta responsabilidade num momento particularmente exigente para a freguesia, e fi-lo com espírito de missão, coragem e um profundo amor pela terra que me viu crescer.

Não entrei na vida autárquica por ambição pessoal, mas sim por acreditar que, nos momentos difíceis, é importante estarmos ao serviço da comunidade. Assumir a presidência foi um gesto de compromisso coletivo, num tempo que exigia união, escuta ativa, firmeza e sentido de dever. Foi isso que procurei dar todos os dias, mesmo quando o caminho não era fácil.

Liderar uma Junta é, muitas vezes, um trabalho silencioso, feito nos bastidores, longe dos aplausos, mas perto das reais necessidades das pessoas. São muitas horas de dedicação, muitas decisões ponderadas, muito esforço para fazer mais com pouco. E é com orgulho e emoção que posso dizer que cada passo dado valeu a pena, porque foi dado com verdade, com empatia e com total transparência.

O Porto Martins é uma freguesia com um potencial extraordinário. Um verdadeiro diamante em bruto, com uma comunidade generosa, resiliente e cheia de valores. Tivemos conquistas importantes, criámos laços fortes com a população, promovemos iniciativas marcantes e lançámos as bases para que novos projetos possam florescer. Mas sabemos que há ainda muito por fazer.

Agradeço do fundo do coração à minha equipa, pela lealdade, competência e espírito de entreajuda. Agradeço à Câmara Municipal da Praia da Vitória, às instituições locais e a todos os que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a nossa missão. E, sobretudo, agradeço aos fregueses — pelo apoio, pelas palavras, pela paciência e pela confiança.

Não me recandidato por motivos pessoais que exigem agora a minha atenção noutras esferas da vida. Mas saio com serenidade e com a consciência tranquila de quem deu o melhor de si em prol do bem comum. Quem vier a assumir a Junta encontrará uma freguesia viva, com projetos em andamento, com desafios sim, mas também com muita margem para crescer e concretizar sonhos.

Levo comigo o orgulho de ter servido a minha terra e deixo a promessa de continuar, como cidadã, disponível e atenta às necessidades da freguesia. Que o Porto Martins continue a ser exemplo de união, participação e esperança num futuro.

© PE