O Presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, anunciou esta terça-feira, 29 de julho, a criação do Observatório Climático do Atlântico, durante a abertura da conferência internacional Weather, Climate and the Economy, na Praia da Vitória. O novo centro de investigação deverá estar operacional até ao final de 2027.

A cidade da Praia da Vitória, na ilha Terceira, acolheu esta terça-feira, 29 de julho, a abertura da conferência internacional Weather, Climate and the Economy, presidida pelo chefe do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro. O evento, que decorre no Auditório do Ramo Grande, reúne decisores políticos, especialistas, académicos e representantes da sociedade civil para debater os impactos das alterações climáticas, com especial atenção às regiões insulares e costeiras.
Segundo a nota de imprensa divulgada pela Presidência do Governo Regional, a conferência resulta de uma coorganização entre o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o Governo dos Açores e a República Portuguesa.
No discurso de abertura, José Manuel Bolieiro destacou o compromisso da Região Autónoma na resposta às alterações climáticas, apesar do seu “reduzido contributo” para a crise ambiental global. “Nos Açores não se produz a poluição que aquece o planeta, mas sofremos duramente as suas consequências. Ainda assim, temos sido consistentes na construção de uma cultura de responsabilidade ambiental e de investimento sério na adaptação às alterações climáticas”, afirmou o governante.
Entre as medidas em curso, Bolieiro destacou o Programa Regional para as Alterações Climáticas (PRAC), composto por 145 ações — 115 de adaptação e 30 de mitigação — em setores como transportes, energia, turismo, agricultura, saúde, recursos hídricos e ecossistemas. Anunciou também a sua próxima atualização, já em preparação, através de um concurso público no valor de 400 mil euros, com o objetivo de alinhar o plano com os mais recentes normativos científicos e europeus.
O líder do executivo açoriano sublinhou ainda o papel do projeto LIFE IP CLIMAZ, lançado em 2021, com um investimento de 20 milhões de euros distribuído por todas as ilhas do arquipélago.
Outro destaque foi a implementação da Rede Regional de Radares Meteorológicos, com um investimento de cinco milhões de euros, agora concluída. “Com esta rede, reforçamos a nossa capacidade de previsão e vigilância, salvaguardando vidas e bens, num contexto de fenómenos cada vez mais extremos”, referiu Bolieiro.
Um dos principais anúncios da sessão foi o futuro Observatório Climático do Atlântico, a instalar no edifício do antigo Observatório José Agostinho, em Angra do Heroísmo. O projeto de execução já foi adjudicado, prevendo-se o início das obras em 2026 e a conclusão dos trabalhos até ao final de 2027. O investimento, de dois milhões de euros, será financiado em partes iguais pelo IPMA e pelo Governo dos Açores. “Se tudo correr como previsto, o Observatório Climático do Atlântico estará operacional no final de 2027, colocando os Açores na linha da frente da investigação e monitorização ambiental no contexto atlântico”, afirmou o Presidente do Governo.
O programa da conferência contou com uma mensagem da Secretária-Geral da Organização Meteorológica Mundial, Celeste Saulo, e com uma intervenção por videoconferência de José Manuel Durão Barroso, antigo Presidente da Comissão Europeia, que ofereceu uma perspetiva política global sobre o desafio climático.
Seguiram-se diversos painéis temáticos com intervenções de peritos como Kilaparti Ramakrishna (Woods Hole Oceanographic Institute), Filipe Duarte Santos (Conselho Nacional do Ambiente), José Poças Esteves (Crowe Advisory – SaeR) e Ana Teresa Perez (Agência Portuguesa do Ambiente), encerrando com uma mesa-redonda moderada pelo jornalista Sidónio Bettencourt.
José Manuel Bolieiro terminou a sua intervenção com um apelo à ação coordenada: “As alterações climáticas não reconhecem fronteiras. Exigem ambição, cooperação e responsabilidade partilhada. Os Açores, mesmo pequenos em escala, afirmam-se grandes pelo exemplo e pelo compromisso.”
A cerimónia de abertura contou ainda com a presença do Representante da República para a Região Autónoma dos Açores, Pedro Catarino, do Secretário Regional do Ambiente e Ação Climática, Alonso Miguel, do Presidente do IPMA, José Guerreiro, e da Presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Vânia Ferreira.
INTERVENÇÃO NA ÍNTEGERA
Texto integral da intervenção do Presidente do Governo, José Manuel Bolieiro, proferida na sessão de abertura da conferência “Tempo, Clima e a Economia”:
“Muito bem-vindos a esta conferência internacional.
Que também visa combater a indiferença sobre a ação climática.
Que promove a consciência, a literacia, a prevenção e a ação.
Que reconhece centralidade e oportunidades aos Açores, que desperta, para esse facto, o País e a União Europeia.
Que faz pedagogia e antecipa futuro, porque a emergência não dispensa o presente da sua responsabilidade de ação.
Vivemos num tempo marcado por desafios sem precedentes.
O planeta encontra-se mergulhado numa emergência climática, cujos impactos se propagam por todos os continentes, atravessando fronteiras, afetando os mais diversos setores de atividade e a própria vida tal como a conhecemos.
Esta pressão exerce-se não apenas sobre os sistemas produtivos, mas também sobre as comunidades, os recursos naturais, a biodiversidade e os ecossistemas, fundamentais para a nossa sobrevivência e bem-estar.
Os Açores são vítimas da alteração climática, pois o seu fazer nada tem a ver com a excessiva carbonização da economia.
Toda a sua ação social, cultural e política tem sido marcada, pelo contrário pela sustentabilidade e por políticas públicas ambientalmente responsáveis.
As alterações climáticas destacam-se como um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade.
Nos Açores, somos um bom exemplo para o mundo.
A União Europeia, se quer assumir um papel de liderança, tem de reconhecer esse papel liderante, pelo exemplo, dos Açores, e deve delinear estratégias concertadas para os seus Estados-membros. O Pacto Ecológico Europeu deve oferecer um quadro legal e financeiro para esta transição ecológica, procurando garantir que seja não só eficaz em termos de custos, mas também socialmente equilibrada, justa e inclusiva.
Permitam-me centrar a atenção na nossa Região Autónoma dos Açores. Apesar do contributo diminuto dos Açores para o aquecimento global, a nossa realidade insular e ultraperiférica faz-nos especialmente vulneráveis aos efeitos nefastos das alterações climáticas. Os Açores têm sentido, de forma clara, o aumento da frequência e intensidade de fenómenos meteorológicos extremos: furacões, períodos de precipitação intensa, galgamentos costeiros e outros eventos que colocam em risco a segurança das pessoas, geram avultados prejuízos materiais e financeiros, e ameaçam a sustentabilidade de setores essenciais para o nosso desenvolvimento.
Recordo, a propósito, o impacto devastador do furacão Lorenzo, cujos prejuízos atingiram os 330 milhões de euros, deixando um rasto de destruição nas nossas ilhas.
Situações como esta demonstram a urgência não só de mitigar as alterações climáticas, mas também — e talvez sobretudo — de reforçar a nossa resiliência e capacidade de adaptação, reduzindo a exposição aos riscos naturais e aumentando a proteção de pessoas e bens.
A intensidade do impacto das alterações climáticas nos Açores dependerá, em larga medida, do nosso grau de preparação e adaptação. É por isso que o Governo Regional assumiu, com convicção, a mitigação e adaptação às alterações climáticas como uma missão central, consagrando uma Secretaria Regional dedicada ao Ambiente, Ação Climática e à gestão de riscos naturais.
Com este enquadramento, foi criado, em 2019, o Programa Regional para as Alterações Climáticas (PRAC), que prevê 145 medidas — 115 de adaptação e 30 de mitigação — abrangendo áreas cruciais como os transportes, energia, agricultura, turismo, pescas, recursos hídricos, resíduos, saúde e ecossistemas.
O projeto LIFE IP CLIMAZ, iniciado em 2021, representa um investimento de 20 milhões de euros ao longo de dez anos, abrangendo as nove ilhas do arquipélago, numa ação coordenada e multissetorial, com a ambição de implementar medidas concretas e transversais de adaptação e mitigação.
Cientes dos desafios e dos avanços normativos e científicos, a Secretaria Regional do Ambiente e Ação Climática lançou recentemente um concurso para a revisão do PRAC, prevendo um investimento de 400 mil euros para garantir a sua atualização, o alinhamento com os instrumentos normativos europeus e a consolidação de uma abordagem integrada para a mitigação e adaptação.
No campo da mitigação, destaco os investimentos avultados nos setores da energia e dos transportes, fomentando a penetração das energias renováveis no nosso mix energético, alavancando a potência geotérmica, eólica, solar e hídrica, e promovendo sistemas de armazenamento e gestão inteligente de energia. Projetos inovadores, como o SOLENERGE e o Pro-Energia, estimulam a produção descentralizada de renováveis em domicílios e empresas, contribuindo para a descarbonização e para o cumprimento das metas internacionais.
No campo da preparação e resiliência, e em boa cooperação com o IPMA, a quem de novo endereço especial louvor e reconhecimento, destaco com satisfação a conclusão da Rede Regional de Radares Meteorológicos dos Açores, um investimento de 5 milhões de euros que garante cobertura integral do arquipélago com tecnologia de ponta, fortalecendo a vigilância e prevenção meteorológica, e permitindo avisos tempestivos à população e aos serviços de proteção civil.
Sem referência exaustiva a todas as ações do governo dos Açores em ação, expresso a minha satisfação pela futura instalação e funcionamento do Observatório Climático do Atlântico, cujo Projeto de Execução para Reabilitação do Observatório José Agostinho foi ontem adjudicado ao gabinete de Arquitetura MMC.
Em novembro entregam o projeto de execução e de imediato será lançado, pelo IPMA, o respetivo concurso público para as obras de reabilitação, que decorrerão em 2026, visando a instalação do Observatório Climático do Atlântico.
Se tudo correr bem estará operacional em final de 2027, com um investimento total de cerca de 2 Milhões, repartidos em 1 milhão de euros de investimento do IPMA, nas infraestruturas, e 1 milhão de euros do GRA, em aquisição e instalação de equipamentos.
A par desta iniciativa a modernização do Observatório da Montanha do Pico, que assim demonstram o nível do nosso compromisso com a investigação e o desenvolvimento científico.
Concluo apelando ao sentido de responsabilidade partilhada. As alterações climáticas desconhecem fronteiras.
A resposta exige esforços coletivos, ambição e solidariedade.
Os Açores, não obstante, a sua dimensão, constituem hoje um exemplo de compromisso e inovação, com políticas públicas assertivas.
O programa desta conferência reflete uma abordagem abrangente, iniciando-se com uma apresentação do IPMA, seguida de uma perspetiva global pelo Dr. Durão Barroso, um painel multidisciplinar de especialistas e, finalmente, um debate aberto.
Expresso o meu agradecimento a todos os intervenientes e participantes – presencialmente e à distância – que se reúnem para partilhar conhecimento, construir consensos e delinear soluções para um futuro mais resiliente, sustentável e justo.
Muito obrigado.
Disse!”
© GRA | Foto: JF | PE
