
O cagarro (Calonectris borealis) foi oficialmente aprovado como novo bioindicador comum de poluição por plástico flutuante na Região V (Atlântico Alargado) da Convenção para a Proteção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste (OSPAR), na reunião ministerial realizada na semana passada em Vigo. A proposta, submetida por Portugal e liderada pelo Governo Regional dos Açores, através da Secretaria Regional do Mar e das Pescas, marca um passo significativo na monitorização da poluição marinha na Macaronésia.
De acordo com a nota de imprensa divulgada segunda-feira, 30 de junho, pela Secretaria Regional do Mar e das Pescas, a proposta resulta de um trabalho técnico e científico desenvolvido pela Direção Regional de Políticas Marítimas, em colaboração com os investigadores Yasmina Rodríguez e Christopher Pham, do Instituto OKEANOS da Universidade dos Açores.
A iniciativa tem por base dados recolhidos desde 2015, no âmbito do programa de ciência-cidadã “SOS Cagarro”, amplamente reconhecido a nível internacional. O novo indicador avalia a quantidade, composição e tendências de plástico ingerido por juvenis de cagarro encontrados mortos durante a época de saída dos ninhos, oferecendo uma ferramenta complementar àquela usada noutras regiões da OSPAR, como o fulmar-do-Ártico (Fulmarus glacialis), espécie ausente no Atlântico Alargado.
Foi ainda aprovado um limiar ambiental para avaliação (‘threshold’), estabelecendo que, no máximo, 20% das aves analisadas deverão conter mais de quatro partículas de plástico nos seus estômagos. Este critério deverá basear-se numa amostragem mínima de 200 juvenis ao longo de cinco anos consecutivos.
A aprovação do cagarro como bioindicador representa, segundo o comunicado oficial, uma “conquista científica e técnica” e uma “contribuição concreta para um modelo de governança cooperativa”, permitindo que os Açores, Madeira e Canárias colaborem na monitorização da poluição por plásticos numa das zonas mais biodiversas do Atlântico.
A reunião ministerial de 2025, realizada sob o lema “avaliação e ambição”, reafirmou o compromisso político dos países membros da OSPAR com a Estratégia Ambiental para o Atlântico Nordeste 2030 (NEAES 2030), face aos desafios colocados pelas alterações climáticas e pela perda de biodiversidade marinha.
A Secretaria Regional do Mar e das Pescas sublinha que esta decisão coloca os Açores “na vanguarda da proteção do Atlântico”, destacando o contributo da Região na promoção de soluções científicas inovadoras e com impacto internacional no combate ao lixo marinho.
A OSPAR é o principal instrumento de cooperação regional para a preservação dos ecossistemas marinhos no Atlântico Nordeste, reunindo países europeus e a União Europeia em torno de metas ambientais comuns.
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