RECORDANDO ABRIL!

Abril de 1973. Regressava eu da Província a Guiné, depois de vinte e um meses passados longe da família e dos amigos, lutando pela sobrevivência de uma causa, que se sabia, haveria de se tornar inglória! Corpos dilacerados, corpos que foram e não voltaram, a tudo isso assisti e, de tudo também me lembro…

Abril de 1974. Revolução dos cravos patrocinada pelos chamados capitães de Abril. Cravos vermelhos simbolizando o sangue derramado numa guerra, que não era mais do que o sustento de um regime autocrático e despótico! Coincidência ou não, caiu quem cá o protegia… singrou quem lá o defendia!

Vinte e cinco de Abril, conquista da democracia, dos direitos dos cidadãos, das igualdades sociais! E que vemos hoje? Liberdade de expressão? Nem sempre, se quiseres manter o teu emprego. Manutenção dos direitos adquiridos? Não, porque o país está em crise e o dinheiro não abunda… Igualdades sociais? Como, se os ricos estão cada vez mais ricos, enquanto os pobres vão continuamente empobrecendo…

Cinquenta e um anos depois, essa data marcante para a democracia em Portugal, será homenageada na Assembleia da República, para quem o povo vota e, assiste impávido ao que vai sendo dito e feito…

Ouviremos discursos inflamados dos responsáveis políticos do momento, a começar por Sua Excelência, o Presidente da República Portuguesa.

Ouviremos decerto também, algumas passagens dos discursos, preparados e declamados com euforia, por jovens políticos, nascidos pós 25 de Abril, como se o tivessem vivido em toda a sua essência… Esquecendo-se que fui eu, a minha geração, o povo deste país, que com sangue e lágrimas contribuiu para a sua liberdade e privilégios adquiridos de forma exorbitante e, por vezes, socialmente vergonhosos, perante uma sociedade verdadeiramente desequilibrada na sua globalidade.

Fernando Mendonça

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