
É o último dia da Semana Santa, na qual os cristãos se preparam para a celebração da festa da Páscoa.
O Supermercado por onde passei esta manhã, apilhava-se de gente fazendo as suas compras, para no seu íntimo, celebrar a ressurreição de Cristo. Ou talvez não… Nos tempos que correm arrisco-me a dizer, que na sua maioria, se preparavam para satisfazerem aquilo a que chamamos do pecado da gula…
Do mesmo modo que se faz em qualquer festividade seja ela profana ou religiosa!
Por um lado, ainda bem que as pessoas conseguem com os meios que têm, satisfazer-se nestas épocas festivas, embora contrariando o conceito da efeméride. Por outro lado, cometem exageros, gastando por vezes o que possam ter, mas que lhes pode fazer tanta falta no dia seguinte…
Faz-me lembrar uma das premissas fundamentais do meu saudoso pai, que no seu tempo tinha como princípio: Guardar para se precisar:
“Guardar para se precisar!” Era esta a frase que meu pai usava com alguma frequência, sempre que lhe sobrava algum escudo da venda de um animal, ou do trigo que cultivava.
Quando dizia para se precisar, podia entender-se que seria para colmatar alguma dificuldade financeira que surgisse, ou até mesmo, comprar algo de que gostava. Insisti que me explicasse, qual o sentido daquelas palavras, ao que ele me respondeu: Filho, para se precisar quando chegar a velho e precise de cuidar da minha saúde e da tua mãe!
Era este o sentido geral daquela poupança, porque na verdade, não havia segurança no futuro. Ou se fazia um mealheiro (aquele que conseguia…) ou se morria à míngua, com o paupérrimo apoio das casas do povo, que ainda bem, surgiram mais tarde e, lhes davam algumas migalhas daquilo que descontavam!
No tempo de meu pai, ser agricultor, para além da vida dura que levavam, era também de muita miséria. Ou se tinha muitas posses, ou então, se era escravo da própria terra que os havia de sustentar.
Poupava-se para a doença, como podem ver nas palavras do meu saudoso pai! Hoje, ou não se poupa nada, porque até muitas vezes não dá… Ou se guarda para as ambicionadas férias, para o carro novo, ou simplesmente (no caso concreto dos Terceirenses…) para as Sanjoaninas ou festas da Praia!
Fazendo uma retrospectiva do que foi a vida do meu pai, depois também da minha e, ainda da do meu filho, concluo que tive uma vida melhor, por aquilo que meu pai poupou… assim como meu filho a teve melhor ainda, por aquilo que o seu pai também poupou…
Foram ciclos da vida, com diferentes caraterísticas e, logo outras necessidades ou obrigações. No entanto, convém refletirmos, se devemos guardar para se gastar, ou apenas para se precisar…
Fernando Mendonça
