PÁSCOA: ENTRE O MISTÉRIO DA RESSURREIÇÃO E A CELEBRAÇÃO DA VIDA

A Páscoa, celebrada com ovos coloridos e coelhinhos saltitantes, é, na verdade, um fio tecido por milénios de história, atravessando tradições pagãs, raízes judaicas e a centralidade da fé cristã. Este tempo festivo, que hoje enche os lares de chocolates e sorrisos, tem raízes profundas que se entrelaçam com os ciclos da natureza, os antigos deuses e o mistério da vida para além da morte.

Muito antes de Jesus de Nazaré caminhar pelas terras da Galileia, os povos antigos já celebravam a chegada da primavera com rituais dedicados à fertilidade e ao renascimento. Para os germânicos, a deusa Eostre – da qual deriva o nome “Easter” em inglês – era honrada como senhora da primavera e da renovação. Seu símbolo? O coelho, criatura prolífica, associada à abundância e ao florescimento da vida. No Egito Antigo, o coelho também era reverenciado como sinal de nascimento e esperança, enquanto nas tradições celtas e greco-romanas, os equinócios marcavam momentos sagrados de renovação.

Com o surgimento do cristianismo, essas antigas celebrações foram ressignificadas. A Páscoa cristã passou a simbolizar a ressurreição de Cristo, o triunfo da vida sobre a morte, da luz sobre a escuridão. Mas mesmo antes do cristianismo, a Páscoa já era celebrada no judaísmo como Pessach, a festa que recorda a libertação dos hebreus da escravidão no Egito – um evento de passagem, de transição para uma nova existência.

Na fé cristã, essa ideia de “passagem” ganha nova dimensão com a paixão, morte e ressurreição de Jesus, que oferece uma vida nova e eterna à humanidade. Curiosamente, o coelho – que se manteve presente no imaginário popular – foi também interpretado, em certas tradições cristãs, como símbolo da Santíssima Trindade, por causa da sua capacidade de gerar múltiplas crias sem perder a unidade do ventre.

Com o passar dos séculos, a simbologia da Páscoa foi sendo moldada pelas culturas. A tradição do Coelhinho da Páscoa, tal como a conhecemos hoje, nasceu entre os imigrantes alemães que levaram para a América a lenda de um coelho que colocava ovos coloridos para as crianças bem-comportadas. Esta tradição, de base pagã, ganhou contornos culturais e acabou por se fundir com os costumes religiosos, dando origem às festividades que conhecemos.

Assim, a Páscoa tornou-se um espaço onde fé, cultura e natureza se encontram. É tempo de renovação da esperança, de celebração da vida, de memória da história – desde as primeiras civilizações até ao mistério maior do Cristianismo. Seja num altar, num jardim florido ou na mão de uma criança com um ovo de chocolate, a Páscoa continua a sussurrar a mesma mensagem: a vida se renova, sempre.

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