BE/AÇORES DENUNCIA “FARSA” NA PRIVATIZAÇÃO DA SATA E ALERTA PARA DESMANTELAMENTO DA EMPRESA

O Bloco de Esquerda dos Açores (BE/Açores) criticou duramente o processo de privatização da SATA, considerando-o uma “farsa”. De acordo com o comunicado de imprensa divulgado pelo partido esta quinta-feira, António Lima denunciou que as negociações foram conduzidas “nos corredores e nos gabinetes”, sem intervenção efetiva do júri responsável pela avaliação das propostas.

Na conferência de imprensa realizada em Ponta Delgada, o deputado do BE/Açores destacou que, apesar de o júri ter analisado uma proposta de um determinado investidor, os acionistas que vão assumir 49% da empresa são outros, cuja identidade, interesses e capacidade técnica permanecem desconhecidos.

António Lima também alertou para as consequências da privatização do serviço de assistência em escala (handling) da SATA Air Açores. Segundo dados revelados pelo secretário regional das Finanças, Duarte Freitas, a operação afetará cerca de 600 trabalhadores, ou seja, mais de 60% dos funcionários da empresa. Para o BE/Açores, isto representa um “desmantelamento total” da companhia, que ficará reduzida a uma “pequeníssima empresa de aviação totalmente dependente de terceiros”.

Relativamente ao aumento do valor da venda da SATA Internacional, António Lima considerou que este fator é “quase irrelevante, perante a montanha de dívida que os açorianos vão ficar a pagar”, estimada em cerca de 400 milhões de euros.

O BE/Açores também manifestou oposição à privatização de outras empresas públicas regionais, como a Portos dos Açores, a Atlanticoline, a Lotaçor e o IAMA. De acordo com o comunicado do partido, estas entidades operam em setores estratégicos ou monopolistas, prestando serviços públicos essenciais. Para António Lima, entregar estas empresas a privados não criará mercados concorrenciais, mas sim favorecerá “meia dúzia de grandes interesses económicos à custa do orçamento da região”.

O deputado apontou ainda que a IROA, responsável por investimentos em infraestruturas agrícolas, é uma extensão da administração pública, e que a privatização do Teatro Micaelense representaria um “desrespeito pela cultura” e pela promoção de públicos. “Em vez de resolver os problemas da maioria das pessoas, o governo quer ajudar a vida de meia dúzia. Este é o grande objetivo deste processo de privatização”, concluiu.

O partido exige maior transparência no processo e, nesse sentido, submeteu um requerimento ao Governo Regional para obter o caderno de encargos do estudo encomendado à consultora Deloitte sobre as soluções para a privatização das empresas públicas açorianas.

“É fundamental conhecer exatamente o que se solicitou que se estudasse e em que termos”, afirmou António Lima, sublinhando que “as perguntas que se fazem influenciam muito as respostas que são dadas”.

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