O Bloco de Esquerda dos Açores (BE/Açores) manifestou sexta-feira forte oposição à possibilidade de reintrodução da prática da ‘sorte de varas’ nas touradas no arquipélago, considerando-a um “retrocesso civilizacional”. A crítica surge após declarações do secretário regional da Agricultura e Alimentação, que, durante na sessão de abertura do 4º Fórum Mundial da Cultura Taurina, que decorre na ilha Terceira até domingo, sugeriu avaliar a viabilidade de levar o tema ao parlamento regional.

A ‘sorte de varas’, uma prática controversa que consiste em ferir o touro de forma violenta com varas, causando danos musculares e neurológicos, é vista pelo Bloco como um ato de crueldade incompatível com os valores de bem-estar animal e com a imagem dos Açores enquanto destino de natureza.

“O incentivo ao regresso da ‘sorte de varas’ demonstra a agenda retrógrada da coligação de direita, já evidenciada por decisões como a reintrodução do uso de herbicidas com glifosato e a permissão de pesca lúdica em áreas marinhas protegidas”, lê-se no comunicado do partido enviado às redações.

HISTÓRIA E CONTEXTO

O BE recordou que a prática já foi alvo de debate no parlamento açoriano. Em 2002, a ‘sorte de varas’ foi aprovada, mas posteriormente travada pelo Tribunal Constitucional. Em 2009, a proposta voltou ao parlamento regional e foi rejeitada por uma pequena margem: 28 votos contra, 26 a favor e duas abstenções. Entre os subscritores da proposta de 2009 encontrava-se o atual Presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro, o que, segundo o BE, reforça a necessidade de vigilância pública e parlamentar sobre o tema.

O partido alerta ainda que o regresso desta prática pode ter um impacto negativo na reputação dos Açores, dificultando a promoção do arquipélago como um destino de turismo sustentável e de respeito pela natureza.

APELO À MOBILIZAÇÃO

O Bloco de Esquerda apela à sociedade açoriana que se mobilize contra esta iniciativa, frisando a importância de uma oposição clara a qualquer tentativa de legalizar a ‘sorte de varas’. Para o partido, é fundamental travar este retrocesso que põe em causa valores éticos, a proteção animal e a preservação da identidade dos Açores como um território comprometido com a sustentabilidade e o progresso.

“O sofrimento extremo dos animais não pode ser base para nenhum tipo de espetáculo. Devemos preservar os valores que nos diferenciam e rejeitar qualquer forma de retrocesso que prejudique os Açores enquanto sociedade moderna e respeitadora dos direitos dos animais”, concluiu o BE no comunicado.

© BE/A | PE