FUNCIONÁRIOS DA COOPERATIVA PRAIA CULTURAL PROTESTARAM CONTRA DESPEDIMENTOS

Funcionários da Cooperativa Praia Cultural informados de que serão despedidos desfilaram ontem nas ruas da Praia da Vitória, em protesto pela forma como a autarquia geriu o processo, alegando desconhecer os critérios para serem dispensados.

“O que todos nós nos perguntamos é: porquê eu? Nunca nos foi dada uma lógica. Antiguidade? Não pode ser. Há gente mais nova do que alguns aqui que ficou. Avaliação? A cooperativa nunca teve avaliação. Os funcionários da câmara têm avaliação, a gente não tem. Nunca perguntaram aos chefes de divisão as funções. Eles nunca me viram a trabalhar, como é que sabem se eu trabalho mais ou menos?”, afirmou, em declarações aos jornalistas, Valter Silva, um dos 37 funcionários da cooperativa informados de que serão despedido.

A presidente do município da Praia da Vitória (PSD/CDS-PP), Vânia Ferreira, anunciou, na segunda-feira, em conferência de imprensa, que a autarquia iria internalizar até ao final do ano a cooperativa Praia Cultural (CPC), integrando 91 funcionários e despedindo 37, que se somam a outros 35 que já tinham aceitado rescisões por mútuo acordo e a dois absorvidos por entidades externas.

A decisão foi comunicada aos trabalhadores numa reunião na sexta-feira, mas os visados dizem desconhecer os critérios de seleção ou a forma como serão reorganizados os serviços após os despedimentos.

“Esta falta de transparência connosco é que nos está a fazer revoltar”, reforçou Valter Silva.

Debaixo de um céu cinzento, com alguns períodos de chuva, cerca de 30 pessoas desceram a Rua de Jesus em direção à Praça Francisco Ornelas da Câmara, em frente à sede do município da Praia da Vitória, entre funcionários, familiares, sindicalistas e políticos.

Vestidos de preto, em silêncio, os funcionários levantavam cartazes em que se liam frases como “A Praia está de luto”, “Fomos usados e abusados”, “Não somos nós que estamos a mais” ou “Nós sim trabalhamos por amor à Praia”.

Segundo Valter Silva, há casais que trabalhavam na cooperativa e foram dispensados, na rescisão por mútuo acordo e nos despedimentos, há pessoas com deficiência que integram a lista dos despedidos e outros, como é o seu caso, que ficarão numa situação financeira difícil.

“Eu acabei de fazer a minha casa este ano. Estou a pagar uma prestação ao banco, com as subidas, de quase 700 euros por mês. Infelizmente, tenho a minha mulher desempregada e tenho uma filha de 4 anos”, contou.

Wilson Fagundes saiu à rua na esperança de que o município volte atrás na decisão, mas admitiu que a luta pode continuar nos tribunais.

“Se a gente tiver de partir para instâncias legais vamos. A gente luta é nos lugares certos. Se for no tribunal é para lá que a gente vai”, avançou.

Para o funcionário da cooperativa Praia Cultural, o executivo camarário está “a partir para o caminho mais fácil, que é despedir”, ainda antes de ter um plano de reestruturação aprovado em assembleia municipal.

“Todas as câmaras têm dívidas e, para ultrapassar as dívidas, não é num ano, nem em dois. Levam oito, 12 anos, levam dois ou três mandatos. Este executivo está a querer despachar tudo em quatro anos ou em dois. Acho que as câmaras não funcionam assim”, frisou.

Também Eusébio Marote condenou os critérios para o despedimento e disse que a autarquia já foi mesmo forçada a voltar atrás.

“Já não têm 37 despedidos, têm 36, porque houve uma pessoa que reclamou, porque tinha maior antiguidade e foi-lhe dada razão. Para não despedir as outras duas pessoas, que tinham menos antiguidade, vão continuar”, revelou.

“O que eu acho é que a estratégia foi feita para empregar uns que eles querem continuar a empregar e os outros irem para a rua”, acrescentou.

O executivo municipal da coligação PSD/CDS-PP admitiu a possibilidade de despedimentos na cooperativa na sequência de uma auditoria às contas do denominado grupo municipal (Câmara Municipal, Praia Cultura e Praia Ambiente), que identificou um passivo de 33,2 milhões de euros.

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