
Carlos Aguiar, fotojornalista de profissão, hoje aposentado, lançou recentemente o seu primeiro livro, intitulado “Memórias do meu presépio”. Nesta obra, uma criativa simbiose de livro com álbum fotográfico, o autor regressa ao tempo da sua infância, para de forma emocionada prestar a sua singela, mas valiosa homenagem, ao lugar que o viu nascer e crescer e às gentes que lhe acompanharam nesta caminhada.
Terminada a II Guerra Mundial, em junho de 1946, as tropas britânicas abalam do aeródromo das Lajes, sendo este ocupado pelos militares norte-americanos até então estacionados no aeroporto de Santa Maria. Com vinda das tropas americanas, o aeródromo das Lajes sofre significativas melhorias, devendo-se a sua configuração atual ao trabalho realizado pela Força Aérea Norte-Americana. Com as melhores condições da pista aliadas à necessidade permanente de vigilância do Atlântico Norte, o tráfego de aeronaves aumenta consideravelmente e o contingente militar norte-americano vai engrossando.
Esta realidade traz à ilha Terceira um vasto número de pessoas oriundas das outras ilhas, que veem na presença militar norte-americana uma oportunidade de escapar a uma vida de miséria e privações sob o manto cinzento do Estado Novo.
Situados nas imediações da Base das Lajes, os lugares de Santa Rita, Amoreiras, Serra de São Tiago e Juncal acolheram todos estes forasteiros que traziam na bagagem pouco mais do que a enorme ambição de uma vida melhor. Firmes neste propósito, em todos estes lugares e principalmente na ladeira de Santa Rita, foram construindo com as sobras que vinham das obras dos americanos, no anterior da Base, barracas para suas moradias, que carinhosamente, nesta obra, o autor designa de “presépios”.
“Memórias do meu presépio” é assim um regresso ao passado, aos tempos áureos da Base das Lajes, constituindo um reavivar de memórias para muitos, e testemunhando e dando a conhecer esta poderosa realidade para tantos outros.
Com textos do próprio autor, de Fernando Mendonça, João Rocha e Jorge Figueiras, e profusamente ilustrado com fotografias de João Pedro Martins, Orlando Silva, de autores desconhecidos, e claro, do próprio autor, “Memórias do meu presépio” é uma compilação de sentimentos, brincadeiras, dificuldades, tradições, festividades, locais e pessoas. Muitas pessoas, famílias inteiras, todas elas com uma história comum: “A Base dos Americanos”.
Em suma, neste regresso à infância, o fotojornalista Carlos Aguiar concretiza parte de um antigo sonho, homenageia o lugar que levou no coração nas estradas da vida que o fez partir, e honra todos aqueles com quem lidou, que são, também eles, marca distintiva desse mesmo lugar.
O livro “Memórias do meu presépio” é uma edição de autor com tiragem de 200 exemplares. Os interessados em ler e ver a obra deverão contactar diretamente o autor, pessoalmente ou através das novas plataformas de comunicação, nomeadamente através da rede social facebook.
Sem pretensões literárias nem artísticas, este é um livro ao qual não se fica indiferente, e por isso mesmo merece ser lido, pelos valiosos testemunhos escritos e fotográficos que reúne, de um tempo em que o “sonho americano” espreitava-se de Santa Rita.
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