
Nascemos, crescemos e com um pouco de sorte chegamos a velhos!…
Durante esse período, por força da natureza, vamos evoluindo física e mentalmente, ora pelas oportunidades que nos surgem, ora pelas nossas escolhas!
Há quem diga, que somos aquilo que nascemos, tanto para o bem, como para o mal!… Discordo completamente deste princípio, pois acho que o tempo nos vai moldando, tal como o barro pelas mãos do oleiro!… No caso concreto do ser humano, são as peripécias da vida, quase sempre madrasta… que nos vão alimentando a humildade e a sensibilidade! Com a idade, a fragilidade e consequentemente a dependência, são o que mais nos custa a aceitar… mas ao mesmo tempo também, a forma de nos coligarmos com mais afinco, àqueles que nos rodeiam!
Os nossos gestos, as nossas atitudes, podemos resumi-las ao carácter? Claro que sim! Mas até aquele sofre evolução ao longo dos anos. Teria aquele idoso de 72 anos, quando mais novo, ajudado aquela criança que, contando as moedas para pagar as poucas compras que fazia, naturalmente a mando da sua mãe, lhe faltava onze cêntimos e escolheu devolver o pequeno saquinho de “gomas” por achar o menos importante?… Esse gesto comoveu o idoso, e podemos perguntar porquê? A sensibilidade, a lembrança dos filhos, dos netos ou netas… que poderiam estar na situação daquela criança, com pena de deixar as “gomas” fez com que dissesse à funcionária: Dê de volta à menina que eu assumo!…
Como todos, tive o meu tempo em que me concentrava na minha vida, no sustento da família, no futuro dos meus filhos!
Hoje, olho mais à minha volta… e vejo aquela criança que referi, assim como muitas outras, também contando as moedas no supermercado! Mais grave do que isso, vejo alguns adultos fazendo o mesmo, prescindindo muitas vezes de bens essenciais à sua sobrevivência!… Porque o que ganham não dá! Porque vão ser aumentados 10 euros, mas uma carcaça já aumentou um cêntimo, um pão pequeno dois, ao fim do mês pode chegar aos 3 euros e daí já só sobram sete!… Isto para não contar com o que pode vir a seguir!…
Testemunho também, aquela senhora que perguntava se sabiam de uma casa para alugar? Perdeu a fala, quando lhe sugeriram uma, que lhe custaria 400 euros mensais!
No entanto, há quem diga que está tudo bem! Estamos como nunca estivemos!… Nunca houve tanto emprego, nem tanto poder de compra!… Na dúvida… perguntem àquela criança porque deixava as “gomas” atrás, ou à senhora porque não podia pagar o aluguer!
Retratos da vida!… Os quais, alguns lá do alto, no poder, não enxergam ou fazem de conta que não…
Fernando Mendonça*
(*) Por opção, o autor rejeita o AO90.
