
Estive hoje (29 de janeiro) na companhia de um grupo de mais de 30 pessoas, na sua maioria mulheres, na Madalena do Pico. Mais de 30 pessoas que davam a cara e a voz por outras 30.
Estive na companhia de mulheres e de um homem cujas expressões faciais revelam o desânimo, a angústia, a falta de perspetiva para o dia seguinte.
Escrevo-vos, obviamente, acerca das mais de 150 pessoas que trabalhavam na fábrica da Cofaco no Pico e que foram alvo de um despedimento coletivo, com a conivência de decisores políticos.
Este processo começou há muito tempo! Primeiro foi encerrada a fábrica da Cofaco no Faial, e alguns anos mais tarde a fábrica da Madalena teve o mesmo destino. Num edifício que não garantia condições de segurança, higiene, e comodidade, que precisava de obras urgentes, estas pessoas deram 10, 20, 30 e 40 anos da sua vida ao serviço nesta fábrica. Deram-lhe os melhores anos da sua vida. Garantiram um produto de excelência, reconhecido internacionalmente. Em troca de quê? De um mísero ordenado e de um despedimento coletivo, envolto em promessas de que tudo se resolveria, e que com a construção de uma nova fábrica, muitas delas voltariam ao seu posto de trabalho já em 2020.
No entanto, a mesma empresa que tem orgulho em dizer que tem mais de 100 anos de tradição, mais de 300 trabalhadores e que tem uma faturação anual superior a 60 milhões de euros é a mesma empresa que, apesar de receber milhões de fundos públicos, tem o descaramento de deixar estas pessoas à “sua sorte”. Na sua grande maioria trata-se de mulheres que são muito novas para se reformar, mas com uma idade que torna muito difícil a sua entrada no mercado de trabalho. Milhões de euros de subsídios públicos que não serviram para a manutenção de postos de trabalho nos Açores, mas apenas para maximizar os lucros dos donos da Cofaco.
O subsídio de desemprego destas mais de 60 pessoas termina, para a maioria, entre abril e maio deste ano, e para os restantes, no próximo ano. Estes estas mulheres e estes homens vêem agora o seu projeto de vida em risco, pois as promessas – em tons de rosa – não foram cumpridas. Palavras, leva-as o vento, mas as despesas com água, luz e gás, a prestação da casa, e a alimentação da família, estas não desaparecem, e têm de ser pagas a tempo e horas.
Depois de um processo de despedimento coletivo, que foi acompanhado por um secretário regional do Mar que mais parecia desempenhar o papel de porta-voz da Cofaco, e que foi ignorado por uma secretária regional da Segurança Social que pouco, ou nada, disse acerca deste flagelo social, resta que a proposta de majoração dos apoios sociais a estes trabalhadores apresentada, pelo Bloco de Esquerda, para o Orçamento de Estado para 2020 venha a ser aprovada. Se isto não acontecer, aproximam-se dias muito difíceis.
O que estas pessoas esperavam do Governo Regional era que dedicasse a esta situação, no mínimo, a mesma dedicação e empenho que tem demonstrado na defesa e na proteção das empresas que recebem incentivos públicos para dinamizar a econonmia dos Açores. Porque, é preciso não esquecer, sem pessoas, sem trabalhadores, não há desenvolvimento económico.

As pessoas que aparecem na fotografia acima não são números. Têm um rosto, têm um nome, têm família. A única coisa que pedem é que a Cofaco e o Governo Regional cumpram o que lhes foi prometido.
Curiosamente, no site da Cofaco não há qualquer informação sobre a fábrica da Madalena, que, supostamente, devia entrar em funcionamento já este ano. Estranho… ou não.
Alexandra Manes
Coordenadora do BE/Terceira
