O PPM/Açores vota “convictamente” contra o Plano e Orçamento dos Açores para 2020, por ser a favor de um “governo do povo, pelo povo e para o povo”. Socorrendo-se do “Auto da Barca da Glória” de Gil Vicente, Paulo Estevão assumiu a personagem de diabo e no seu discurso vicentino condenou ao inferno os governantes João Ponte, Marta Guerreiro e Avelino Meneses. Com o presidente do executivo, Vasco Cordeiro, foi mais complacente na sentença, deixando o caso “por encerrar” na esperança de ventos “da mudança que o Povo Açoriano anseia”.

O Deputado do PPM/Açores eleito pelo círculo eleitoral do Corvo, Paulo Estevão, manifestou-se ontem, ao intervir na Assembleia Legislativa Regional, na Horta, no âmbito do debate parlamentar sobre a proposta do Governo dos Açores do Plano e Orçamento para 2020, “convictamente” contra um documento que segundo diz, não apresenta qualquer “verdadeira solução para os problemas dos açorianos”, cujo objetivo único é “eternizar o partido governamental [PS] no poder”.

Paulo Estevão, tal como em 2011, voltou a socorrer-se da trilogia das barcas de Gil Vicente, invocando desta feita o “Auto da Barca da Glória”, para interpretando a personagem de Diabo condenar a governação socialista, nas figuras do secretário regional da Agricultura e Florestas – na peça vicentina o “Bispo” – a secretária da Energia, Ambiente e Turismo, o secretário regional da Educação e Cultura, o “Cardeal”, e o presidente do Governos dos Açores, o “imperador”, todos ao inferno, exceção feita, ao presidente do Governo em que deixou a sentença “por encerrar” à espera dos ventos “da mudança que o Povo Açoriano anseia”.

A João Ponte – o “Bispo”, o monarca açoriano acusou-o de estar sempre a viajar de avião entre as nove ilhas e o continente, não se vendo rastro dele pelos campos e pastagens açorianas, o que o faz “mais prejudicial para a camada de ozono que as vacas dos Açores todas juntas”. Por “andar sempre nas nuvens”, acrescenta Paulo Estevão, “falta-lhe tempo para governar e para resolver os assuntos da agricultura” e vai dai “o vice-presidente do Governo aproveitou a sua distração aérea e cortou-lhe 7% do orçamento da sua secretaria”.

A Marta Guerreiro, o parlamentar na sua narrativa vicentina logo a culpou por ser a responsável pela não paragem no arquipélago da jovem ativista ambiental Greta Thunberg, que se encontra ao largo dos Açores num barco à vela com destino à capital do país. “Diga-me uma coisa. Conhece mais algum responsável governamental da área do ambiente – com exceção da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a quem o Presidente Trump aplicou cortes brutais no Orçamento – que tenha aceitado um corte orçamental na ordem dos 13,2%, como aconteceu nos Açores?” Interrogou Paulo Estevão, rematando: “Que coerência tem então o discurso de combate às alterações climáticas de V. Ex.ª? Nenhuma, como é evidente!”.

A Avelino Meneses, o deputado corvino responsabilizou-o pela burocracia administrativa do programa “ProSucesso” onde existem “157 fichas administrativas e de avaliação”. Acusou-o também da falta de professores de Biologia e Português nas escolas açorianas e ainda assim aceitou um corte de 2,6% no Plano. E sem piedade, no seu juízo diabólico, logo o condenou ao “inferno”.

A Vasco Cordeiro – o “imperador”, nesta narrativa ficcionado – Paulo Estevão disse vê-lo acompanhado “de Maquiavel” com um plano absolutamente devastador. “Depois de afundar o ‘Atlântida e o Anticiclone’, impedindo assim que a sua alma me chegue por via marítima, o Presidente do Governo Regional está empenhado em acabar com as ligações aéreas que a SATA ainda assegura aos açorianos”. E avança Paulo Estevão: “o presidente do Governo Regional tem um plano ainda mais vasto. Quer, estou convencido disso, ser meu concorrente direto. Quer criar um Inferno dele, mandado por ele, nos Açores, em direta concorrência com o meu milenar Reino Infernal. É isto que Maquiavel lhe está a sussurrar ao ouvido”.

Finalizou, afirmando que o voto contra do PPM/Açores a este Plano e Orçamento, é antes de mais e acima de tudo, um “voto a favor do ‘governo do povo, pelo povo e para o povo’”.

Veja o discurso integral de Paulo Estevão neste link.

PE